Documento “Arpilleras” estreia dia 29 de agosto no Rio de Janeiro

O filme foi viabilizado por meio da plataforma de financiamento coletivo “Catarse”, no ano de 2015, e é uma produção do Movimento dos Atingidos por Barragens




FonteMAB

Após três anos de produção, o longa-metragem “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência” chega às telas dos cinemas. O lançamento nacional do documentário ocorrerá na próxima terça-feira (29), às 19 horas, no Cine Odeon, em sessão para convidados. Também conhecido como Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, o cinema existe desde o início do século XX na Praça Floriano, na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro (RJ).

O filme foi viabilizado por meio da plataforma de financiamento coletivo “Catarse”, no ano de 2015, e é uma produção do Movimento dos Atingidos por Barragens. O MAB, como é popularmente conhecido, atua há 26 anos para garantir os direitos de pessoas impactadas com a construção de barragens no Brasil.

Dentro desse segmento social, as mulheres são as que mais sofrem com as violações de direitos humanos. Com a chegada de milhares de operários nos pequenos municípios que abrigam os canteiros de obras, por exemplo, há um aumento exponencial dos casos de assédio sexual, tráfico de mulheres, prostituição e estupro. Para mostrar essa realidade, o documentário entrelaça a história individual e coletiva de 10 atingidas espalhadas pelas cinco regiões do Brasil.

A partir da experiência de cada personagem, o filme aborda a problemática da hidrelétrica de Belo Monte, que atingiu aproximadamente 40 mil pessoas em Altamira (PA); a barragem de rejeitos de Fundão, que se rompeu em novembro de 2015 e causou a morte de 19 pessoas em Mariana (MG); a barragem do Castanhão, que canaliza água para a região metropolitana de Fortaleza (CE); a hidrelétrica de Itá (RS), idealizada no período da ditadura militar; e as hidrelétricas de Cana Brava e Serra da Mesa, ambas localizadas em Goiás.

Arpillera: bordado como ferramenta política

O fio condutor da narrativa fica por conta de um bordado denominado de “arpillera”. Essa técnica surgiu no início do século passado em Isla Negra, no Chile, quando as mulheres começaram a utilizar a juta de sacos de batata para criar histórias costuradas. De uma ocupação para gerar renda, as arpilleras ganharam mais potência durante o período da ditadura militar [1973-1990].

Nas periferias de Santiago, as mulheres começaram a costurar denúncias com pedaços das roupas de seus parentes, desaparecidos pelas forças de repressão comandadas pelo ditador Augusto Pinochet. Entre a juta, elas escondiam cartas que descreviam a situação política no país.

Inspiradas nesse exemplo histórico, o MAB iniciou em 2013 um trabalho com as atingidas por barragens. Foram mais de 150 oficinas desde então, com o intuito de fortalecer a auto-organização das mulheres e criar um amplo levantamento das violações que ocorrem na construção de barragens no Brasil.

No documentário, uma arpillera com o contorno do mapa do Brasil une as personagens de Norte à Sul do país, criando um mosaico multifacetado de histórias de luta e resistência que se completam. São mulheres que perderam suas casas e memórias alagadas pelos lagos das barragens.

Exposição

Na quinta-feira (24), às 12 horas, que antecede a estreia do filme, será aberta uma exposição no Cine Odeon com 11 arpilleras, confeccionadas por atingidas por barragens de diversas regiões do país. Essas peças fazem parte da exposição “Arpilleras: bordando a resistência”, que já esteve em 2015 no Memorial da América Latina. A única peça inédita é justamente a confeccionada durante as gravações do documentário.