Argentina: Milhares de pessoas protestam contra desaparecimento de Santiago Maldonado

Organizações de direitos humanos e movimentos populares realizaram ato em Buenos Aires um mês após sumiço de jovem

Santiago Maldonado é o primeiro desaparecido desde a abertura política no país / Notas Periodismo Popular

Milhares de argentinos protestaram, nesta sexta-feira (1º), na capital da Argentina, Buenos Aires, contra o desaparecimento do jovem Santiago Maldonado, que tem paradeiro desconhecido há um mês. Em 1º de agosto, o jovem foi detido pela Polícia Nacional Argentina.

Desde então, os familiares de Santiago Maldonado, de 28 anos, não têm notícias sobre o seu paradeiro. Ele desapareceu durante a repressão a uma manifestação da comunidade mapuche no sul do país, na província de Chubut. O fato fez com que diversos setores da sociedade se mobilizassem para exigir que ele apareça com vida.

Com o passar dos dias, as investigações judiciais não obtiveram nenhuma resposta e o desaparecimento de Maldonado se tornou uma prioridade para os argentinos que, durante a ditadura militar, sofreram com mais de 30 mil desaparecimentos forçados.

Entenda o caso

O Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) afirmou que, na ocasião do desaparecimento de Maldonado, cerca de 100 agentes da polícia dispararam balas de borracha e balas de fogo contra os presentes, e que também queimaram os pertences das famílias mapuche que bloqueavam a estrada para protestar contra a prisão de Facundo Jonas Huala, líder mapuche, e contra o pedido de extradição da justiça chilena, que o acusa de ter realizado supostos atos de terrorismo.

Maldonado foi visto pela última vez “enquanto fugia da perseguição da Polícia Nacional”. Testemunhas afirmam que ele se encontrava no local no momento em que ocorreu a repressão. Duas testemunhas afirmam ter visto os policiais levarem o jovem.

Governo

Para a Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, como a maior parte das pessoas presentes na manifestação estava com o rosto coberto, “não existem indícios de que Santiago estava presente”.

Após o caso ser considerado, durante as investigações, como “desaparecimento forçado”, a ministra tentou desmerecer a versão dos mapuches e dos manifestantes e isentar a polícia.

Já a procuradora Silvina Ávila, responsável pelas investigações do desaparecimento de Maldonado, declarou ao jornal Página/12 que o relatório sobre o caso, solicitado pela Organização das Nações Unidas (ONU), está pronto.

No documento, a procuradora admite a ausência de atualizações nas investigações e reconhece que os “esforços não geraram as respostas necessárias para comprovar a integridade física de Maldonado, nem determinar seu paradeiro e dar uma resposta à família”.

Além disso, destaca a “gravidade” de que as testemunhas tenham visto o jovem pela última vez “durante um procedimento realizado por uma força federal”, neste caso, a polícia nacional.

Incongruências no relato oficial dificultam a investigação e intrigam a população argentina.

A família de Santiago Maldonado repudia as investigações que até o momento são realizadas com o aval do Ministério da Segurança, sob o comando de Bullrich, que não considera as hipóteses que envolvem a polícia nacional no desaparecimento.

O caso tem recebido atenção dos movimentos de diretos humanos na Argentina, onde 30 mil pessoas desapareceram durante o regime militar (1976-1983).