Em Chapecó, Dilma avalia contexto antidemocrático no Brasil e América Latina

Convidada especial do curso que objetiva fazer uma reflexão sobre os movimentos progressistas na América Latina, Dilma foi aclamada por estudantes, movimentos populares e comunidade chapecoense





Foto: Angelica Limberger

Por Gutto Wendler, especial para o Porém.net

“Nós conseguimos romper a barreira da mídia e hoje o mundo sabe que neste país houve um golpe contra a democracia”. A frase foi proferida na última sexta-feira (1º) pela ex-presidenta Dilma Rousseff durante etapa do Curso de Pós-Graduação em Filosofia Política “A Esquerda no Século XXI”, do Instituto Dom José Gomes, em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina.

Convidada especial do curso que objetiva fazer uma reflexão sobre os movimentos progressistas na América Latina, Dilma foi aclamada por estudantes, movimentos populares e comunidade chapecoense. Com a voz rouca por conta de uma agenda repleta de eventos, ela falou do golpe que recentemente completou um ano e as constantes tentativas de silenciá-la.

“Hoje não há grande dúvida que foi um golpe parlamentar devido ao caráter fraudulento das razões. Alegar pedaladas fiscais e, ao mesmo tempo, supostas pedaladas fiscais é, sem sombra de dúvida, um artifício para se fazer um golpe parlamentar”, disse a ex-presidenta.

A petista ressaltou que uma das cláusulas mais importantes da Constituição foi ferida ao jogarem fora 54,5 milhões de votos. “Desde o início houve uma tentativa de impedir que nós nomeássemos este fato como golpe de Estado. Eu fui interpelada pelo Supremo Tribunal Federal de por que eu estava me referindo ao processo como sendo golpe de Estado. Isso é típico dos processos autoritários”, destacou.

Dilma ainda denunciou o caráter misógino do golpe, afirmando que não seria necessário relembrar os xingamentos que lhe foram feitos, pois as mulheres sabem quais são. Ela relembrou como foi estigmatizada como uma “mulher dura”, enquanto um homem seria apenas considerado “forte”.

Foto: Ester da Veiga

Para o vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), professor Antônio Inácio Andrioli, é importante fazer da academia um espaço para fomentar o debate. “Faz parte deste contexto compreendê-lo e em todos os momentos de crise, não só econômica, mas também crise política que nós atravessamos há um bom tempo. É fundamental que a Academia possa produzir a reflexão, possa aprofundar o debate, não perder de vista o acúmulo histórico que a humanidade construiu sobre que tipo de sociedade nós queremos? Como democratizar o Estado? Qual a relação do Estado com a sociedade civil organizada? O tema da Democracia no atual cenário político brasileiro, a afirmação dos direitos humanos, das grandes conquistas que as últimas décadas produziram.”

Ana Elsa Munarini, coordenadora do Instituto Dom José Gomes, lembra que a inquietude diante de tanto retrocesso em tão pouco tempo no cenário latino-americano é a força motriz para mobilizar grandes referências teóricas e lideranças políticas de esquerda, tanto do Brasil quanto da América Latina, a fim de compartilhar conhecimento e aprofundar a reflexão sobre o futuro da esquerda no século XXI.

Pós-Graduação 

A Pós-Graduação A Esquerda no Século XXI foi idealizada e articulada pelo Instituto Dom José Gomes, entidade criada para dar seguimento ao legado desse grande educador, Bispo Dom José Gomes (in memoriam), líder religioso e defensor dos pobres e oprimidos, adotou essa proposta e tornou-se o organizador e promotor deste projeto, em parceria com o Instituto de Filosofia Berthier (IFIBE) e com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). A partir de então, buscou-se estabelecer parcerias institucionais com a UFFS e a Fundação Perseu Abramo (FPA), dentre outras instituições.

As duas primeiras etapas da Pós-Graduação tiveram como professores o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, além do Dr. José Mao Júnior (Instituto Federal de São Paulo) e o Dr. Valter Pomar.