Jornada homenageia uma década da morte de militante da Via Campesina

Keno será o homenageado especial da 16ª Jornada de Agroecologia, que terá início nesta quarta-feira (20) e vai até o sábado (23) no município da Lapa





Foto: Julio Carignano

Em 21 de outubro, completa-se 10 anos da morte do trabalhador rural Valmir Mota de Oliveira, o Keno, liderança da Via Campesina. O crime aconteceu no Acampamento Terra Livre, em Santa Tereza do Oeste (PR), por uma milícia armada contratada pela Syngenta Seeds em conjunto com movimentos de produtores rurais ligados ao agronegócio, entre eles a Sociedade Rural Oeste (SRO), presidida na época por Alessandro Meneghel, que hoje está preso acusado da morte de um policial federal em Cascavel.

O ex-militante sem terra será o homenageado especial da 16ª Jornada de Agroecologia, que terá início nesta quarta-feira (20) e vai até o sábado (23) no município da Lapa, a 70 quilômetros de Curitiba. Organizada pela Via Campesina, o evento acontece anualmente e é um espaço de resistência, cultivo a biodiversidade, incentivo a agroecologia e a produção livre de transgênicos e agrotóxicos.

O ataque que vitimou Keno, em 21 de outubro de 2007, ganhou repercussão internacional junto a movimentos sociais e organizações de direitos humanos. Além da morte da liderança da Via Campesina, outros três trabalhadores camponeses ficaram gravemente feridos. Um dos seguranças contratados pela empresa também morreu. Duas ações foram ajuizadas, porém um dos processos que apurava a responsabilidade criminal de milicianos e sem terra foi recentemente arquivado, absolvendo ambos os lados.

Por outro lado, a Syngenta foi condenada a indenizar os familiares de Keno – a viúva Iris Maracaípe e seus três filhos – além da agricultora Isabel Nascimento de Souza. A multinacional recorre ao Tribunal de Justiça do Paraná da decisão proferida pelo juiz Pedro Ivo Moreira, da 1ª Vara Cível da Comarca de Cascavel. A responsabilização da Syngenta foi considerada na época uma “exceção à regra”, devido a atuação das empresas transnacionais no que diz respeito à violação de direitos humanos.

A luta das famílias camponesas, que organizaram o Acampamento Terra Livre e que permaneceram resistindo por mais de dois anos no espaço, juntamente com o grande apoio e solidariedade recebidos por organizações de várias partes do mundo, foi primordial para a importante vitória obtida pelos trabalhadores camponeses. Foi mediante a grande repercussão do caso e a condenação da sociedade à ação armada da multinacional que, em 2008, a Syngenta teve que transferir a posse da área para o Governo do Paraná.

Histórico

A empresa suíça Syngenta Seeds, detentora de 19% do mercado de agroquímica e a terceira de maior lucro na comercialização de sementes no mundo instala em 1998 uma sede em Santa Tereza do Oeste, no região Oeste do Paraná. Atenta aos crimes ambientais e ao desrespeito a legislação, a Via Campesina denúncia as irregularidades a órgãos nacionais e internacionais e a empresa é multada em R$ 1 milhão pelo Ibama.

No dia 14 de março de 2006, a área é ocupada, com ampla repercussão internacional. As 70 famílias camponesas permanecem até novembro de 2006 no local, quando o Estado do Paraná cumpre liminar de reintegração de posse expedida pela Justiça de Cascavel. As famílias retornam ao local depois que a área foi desapropriada pelo governo para a criação de um Centro de Agroecologia.

Em 18 de julho de 2007, os sem-terra cumprem ordem judicial e as famílias se deslocam para o assentamento Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste. Em outubro de 2007, a área é reocupada, após os rumores de que a terra estava sendo preparada para plantação de soja e milho transgênico, o que desrespeita a regras de um centro de agroecologia.

Após a nova ocupação, em uma ação covarde e sorrateira de uma milícia contratada pela multinacional, Keno é executado e outros três camponeses são feridos gravemente. No confronto, um dos milicianos também é morto. O caso é denunciado em todo o Brasil, em tribunais internacionais, entre eles, o país de origem da empresa.