Mulheres protestam contra professor que debochou de vítimas da violência

Entidades publicaram uma nota de repúdio e cursinho se defende





Diversas entidades e coletivos que lutam pelos direitos das mulheres publicaram uma nota de repúdio após um professor debochar de mulheres vítimas de violência. “Mulher gosta de levar porrada, não é verdade?” foi uma das frases ditas em um curso sobre Estatuto dos Servidores.

A declaração polêmica ocorreu no começo de setembro e veio a público no fim de semana. Para as mais de 30 entidades que assinam a nota de repúdio, o professor debochou da violência contra a mulher. “Não é aceitável que um professor de Direito ignore e deboche em sala de aula da alarmante estatística violência doméstica no país. Uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência só no último ano no Brasil”, destaca a nota.

Após a repercussão negativa, o Curso Luiz Carlos emitiu nota. Nela, afirma que “o curso repudia e não compactua com qualquer tipo de incitação à violência contra as mulheres – ou qualquer outro tipo de discriminação, ligada a que gênero for”. Por outro lado, a nota afirma que tanto o curso como o professor foram vítimas de interpretação sem cuidados. “O simples ato de compartilhar conteúdo sem nenhuma checagem prévia parece ser mais importante que buscar o contexto real dos fatos”, relativiza a nota.

Já o professor Vitor Augusto Leão afirmou que o trecho do vídeo apresentado está fora do contexto de todo vídeo da aula. “As pessoas que me conhecem sabem muito bem do respeito, amor e entrega que tenho por minha esposa e filhas, resultando em respeito e empatia para com outras pessoas”, afirma. O professor ainda afirmou que não se pode confundir brincadeira no contexto como ocorreu com discurso pregador de violência contra a mulher.

Confira o texto na íntegra de repúdio ao professor:

“Gosta de apanhar ou não? Levar uns murros na boca de vez em quando? Uma joelhada, não gosta? Quebrar umas costelas, não gosta? Mulher gosta de apanhar. Mulher gosta de levar porrada, não é verdade?”

Parece inacreditável, mas as frases foram ditas por um professor dentro de uma sala de aula. Trata-se de Victor Eduardo Leão.

O episódio aconteceu em Curitiba, em 2/9/17, quando ele ministrava aula no Curso Luiz Carlos sobre o Estatuto dos Servidores para concorrentes a uma vaga no TRE-PR.
A incitação à violência começou quando o professor decidiu “brincar”.
“Mulheres se acha, né? Essa Lei Maria da Penha aí.”

E, olhando para uma aluna, prossegue com as perguntas ofensivas.

No site do Curso Luiz Carlos, Vitor Leão é apresentado como professor das Faculdades Guarapuava e analista judiciário na Justiça Federal de Primeiro Grau no Paraná. Também como mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí, especialista em Direito Civil pela Associação de Ensino Novo Ateneu e bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Trata-se de alguém que conhece as leis e suas implicações.

Não é aceitável que um professor de Direito ignore e deboche em sala de aula da alarmante estatística violência doméstica no país. Uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência só no último ano no Brasil. 503 mulheres são vitimas de agressões físicas a cada hora (Datafolha. Março/2017).

Muitas dessas mulheres poderiam estar ali, ouvindo gargalhadas de suas dores. Imagine os sentimentos provocados pelo professor em quem já foi vítima ou viu a mãe, irmã ou filha ensanguentada pelas mãos do companheiro?

Após alegar que estava brincando, Vitor Leão retoma a incitação à violência. “Vamos falar agora de penalidades. Vai vir a Lei João da Lapa e revogar a Lei Maria da Penha e nós vamos voltar a descer bordoada na mulherada, tá? Porque lá em casa é assim, nesse esquema.”

Nós, mulheres brasileiras, repudiamos a postura do professor Vitor Augusto Leão. Não podemos mais aceitar que a dor e a morte de tantas mulheres ainda sirvam de motivação para piada.

Assinam este manifesto:
– ABGLT – Associação Brasileira de Lesbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais
– AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
– Associação Ciranda das Mulheres
– CAAD – Advogadas e Advogados pela Democracia
– Ciranda Compartilha
– CLADEM – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher
– Coletivo Arte é Vida
– Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta
– Coletivo Feminista da APP-Sindicato
– Coletivo Voz Materna
– Comissão Regional do Oeste Metropolitano de São Paulo
– CONDSEF – Confederação Servidores Federais
– CONFETAM
– CNTSS
– CUT – Central Única dos Trabalhadores
– Deputada Federal Jandira Feghali (relatora da Lei Maria da Penha)
– Deputada Federal Jô Moraes
– Deputada Federal Maria do Rosário
– FASUBRA
– Federação de Mulheres do Paraná
– FESSP-ESP – Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado de SP – inclua Juneia por favor
– FENAJUD – Federação Nacional dos Servidores Judiciários
– FESEMPRE – Federação Interestadual de Servidores Públicos Municipais e Estaduais
– FETAM – RN
– Fórum Popular de Mulheres
– Frente Regional de Enfrentamento à Violência do ABC Paulista
– GETRAVI – Grupo de Pesquisa, Trabalho, Gênero e Violência Doméstica e Familiar
– Fórum Nacional de Políticas Públicas para Mulheres – Coletivo Rose Nogueira
– Mais Maria
– Marcha Mundial das Mulheres – PR
– Marcha Mundial das Mulheres – Guarapuava
– Marcha das Vadias – Curitiba
– MNU – Movimento Negro Unificado
– Movimento Médic@s pela Democracia
– Mulheres da CUT
– Mulieribus – Núcleo de Estudos das mulheres e Relações de Gênero da UEFS
– NEPEM/UFMG – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais
– NUPRO – Núcleo de Proteção de Direitos de Mulheres e Infância
– PartidA Feminista Nacional
– PartidA Feminista Curitiba
– PartidA Feminista DF
– PartidA Feminista Florianópolis
– PardidA Feminista Jataí
– PartidA Feminista Minas
– PartidA Feminista Palmas
– PartidA Feminista Recife
– PartidA Feminista Rio de Janeiro
– PartidA Feminista RS
– PartidA Feminista São Paulo
– Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos
– Rede Não Cala
– Rede Mulheres Negras do Paraná
– Senadora Gleisi Hoffmann
– SINDSAUDE – SP
– SISPPMUG – Sindicato dos Servidores Públicos e Professores Municipais de Guarapuava.
– Todas Marias
– UBM – União Brasileira de Mulheres
– Vereadora Maria Letícia Fagundes – Curitiba/PR
– Vereadora Professora Josete – Curitiba/PR