LGBTIs protestam contra “cura gay” em Curitiba

Protesto ocorreu contra liminar da justiça do Distrito Federal que liberou a "cura gay", por profissionais da psicologia





Foto: Leandro Taques

Na tarde deste domingo (24) cerca de 500 pessoas estiveram no ato em frente ao Museu Oscar Niemeyer protestando contra uma decisão liminar, do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, que abre caminho para a chamada “cura gay”. Pela decisão, profissionais de psicologia poderiam atender homossexuais e utilizar “terapias de reversão sexual”. A liminar tem causado revolta na comunidade LGBTI em todo o Brasil. Após a publicação, várias manifestações acerca do tema aconteceram. Em Curitiba, o ato marcou posicionamento contra qualquer tipo de ação que viole os direitos fundamentais da população LGBTI.

Segundo Márcio Marins, da APPAD (Associação Paranaense da Parada da Diversidade LGBTI), a manifestação teve como objetivo mostrar para o juiz do Distrito Federal que não há cura para o que não é doença. “A organização mundial da saúde, ainda em 1990 já tirou a homossexualidade do CID – Código Internacional de Doenças. Esse juiz está, na verdade, cedendo à pressão de movimentos conservadores que estão atacando direitos de vários segmentos da sociedade. Nós LGBTI não vamos aceitar nenhum retrocesso. Estamos aqui reunidos, para dizer não ao juiz”.

Marins também comentou sobre mais um ato que está marcado para a próxima terça-feira (26), na Justiça Federal. “Estaremos na porta da Justiça Federal para dizer que não somos doentes. É inegável que essa onda conservadora vem crescendo depois do golpe de 2016. Não somos só nós, LGBTI que estamos sendo atacados. Terreiros de Umbanda e Candomblé, no Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal e Curitiba estão sendo invadidos, depredados, incendiados. Os direitos das mulheres estão sendo atacados, cada vez mais querem criminalizar o aborto. Nós, negros e negras adeptos das religiões de matriz africana, trabalhadores e trabalhadoras estamos tendo nossos direitos atacados sim, por essa onda conservadora que tem crescido. Só nos resta fazer a resistência”, finalizou.

Os profissionais de psicologia vinham sendo proibidos de oferecer tratamentos de “cura ou reversão” pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1999. Agora, a resolução que garantia essa proibição está sob risco. A decisão liminar proferida no Distrito Federal autoriza que profissionais de psicologia retome práticas de reorientação sexual.

Rudolfo Auffinger, cineasta que participou do protesto, salientou que a decisão do Distrito Federal é mais uma tentativa da retirada de direitos. “Estamos aqui fazendo muito barulho mostrando para essa galera conservadora de Curitiba que homossexualismo não tem cura porque não é doença. Estamos aqui fortalecendo o movimento, defendendo nossos direitos”.

Toni Reis, do Grupo Dignidade, comentou que um dos objetivos do protesto. “Estamos aqui para conscientizar a nossa própria comunidade que estamos sendo atacados”, comentou. Reis comenta que a liminar do DF é apenas a ponta do iceberg. “Essa liminar é só o começo. Precisamos estar atentos e nos manifestar. Resistir. Faremos várias audiências públicas, vamos nos manifestar na terça-feira na Justiça Federal e outros atos.

Reis também apontou o crescimento do conservadorismo no país depois do golpe de 2016. “Basta ver a posição do Bolsonaro nas pesquisas. Ele tem em torno de 15 a 20% de intenção de voto. Isso é impensável. Isso não é uma direita, é uma extrema direita. É fascismo, chega ao nazismo. O Hitler, em 1933 começou atacando os judeus, depois os homossexuais. No Brasil, estão atacando LGBTI, índios, o direito das mulheres dos trabalhadores. Isto é preocupante”, finalizou.

Profissionais da psicologia e a sociedade civil em geral precisam combater o preconceito, que não pode ser tolerado numa sociedade que se pretende plural, democrática e diversa.