Questões urgentes para a comunicação alternativa no Paraná

Muitas vezes a militância social limita-se a apenas criticar o oligopólio da mídia, com algumas pessoas, de forma isolada, cometendo o grave equívoco inclusive de hostilizar jornalistas e trabalhadores da comunicação durante a cobertura de atos





Por Pedro Carrano*

Agora um papo sério: é urgente a compreensão por parte da militância sobre a construção da mídia da classe trabalhadora.

Muitas vezes a militância social limita-se a apenas criticar o oligopólio da mídia, com algumas pessoas, de forma isolada, cometendo o grave equívoco inclusive de hostilizar jornalistas e trabalhadores da comunicação durante a cobertura de atos.

Porém, uma pergunta se torna aqui cada vez mais gritante: mas por que continuam compartilhando as matérias e notícias da mesma mídia como fonte, além de não construir a mídia dos trabalhadores? Por que não construir uma alternativa? Por que não construir e apoiar as experiências existentes?

Melhor momento, mas ainda insuficiente

Estamos num melhor momento na comunicação popular no Paraná, ainda que forçados pelas piores circunstâncias de uma conjuntura de golpe e ataques contra os trabalhadores.

Em 2014, por exemplo, não tínhamos as ferramentas que temos hoje. O objetivo é falar aqui sobre algumas experiências, sabendo que o leque, no entanto, é maior. E, na luta de classes, todas as ferramentas de comunicação son buenas, parafraseando um velho Leminski.

Impressos

Sobre os materiais impressos para diálogo com a população, o jornal Brasil de Fato Paraná completa um ano e meio e 20 mil exemplares semanais, alcançando 26 cidades no Paraná e 49 pontos de distribuição. Em 24 desses pontos a militância popular, sindical ou da juventude está organizada tendo o jornal como pretexto para o trabalho de base.

Como um todo, em média, o sistema de comunicação do Brasil de Fato alcança 500 mil exemplares por mês, nos estados de Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que é ainda insuficiente. Muito para a produção da esquerda, mas pouco para a realidade brasileira.

O jornal Metro, por exemplo, divulga que roda ao todo 500 mil jornais diários em mais de dez cidades brasileiras. Isso tudo mesmo em um contexto de redução das tiragens impressas das maiores empresas do país.

Aqui, uma primeira tarefa é ampliar esse envolvimento, o anúncio das entidades dos trabalhadores, distribuição e expansão do jornal.

As edições temáticas impressas do Terra Sem Males – jornalismo independente também são um material importante para distribuição entre as bases dos trabalhadores.

Redes sociais

Nas redes sociais e internet, também dominados pelo conservadorismo, precisamos compartilhar e divulgar notícias de veículos com a proposta de atingir os trabalhadores e relatar suas lutas: Porém.net, Terra Sem Males, Brasil de Fato Paraná começam a ser também fontes de notícias gerais e políticas – deixando de ser restritas a notícias dos movimentos sociais.

É preciso fortalecer essas redes e articular melhor a difusão e distribuição de conteúdo, para que não se articulem apenas pequenos grupos com suas pautas próprias e limitadas, mas que haja espaços articuladores entre todos os coletivos produtores de conteúdo.

Rádio Agência e TV Comunitária 

Outra ferramenta é a Radio Agência Brasil de Fato, experiência nova para alcançar com notícias rádios locais, comunitárias, e em breve será feito o programa piloto de uma hora para distribuição em diferentes rádios, locais, comunitárias etc.

A experiência da TV Comunitária de Curitiba deve ser um veículo dos movimentos sociais de difusão e precisa contar com o fortalecimento das organizações. E há propostas da Frente Brasil Popular articular em todo o país TVs para veicular um programa ligado aos movimentos sociais.

Sindicato como plataforma para comunicação

É fundamental também fortalecermos as mídias dos sindicatos e entendermos as organizações sindicais no contexto do debate da Claudia Santiago e Vito Giannotti, como potenciais construtores de uma mídia alternativa.

Nisso as entidades precisam compreender que há uma produção de materiais importantes, mas é preciso investir também em distribuição: temos como exemplo parceria importante entre o sindicato dos bancários e Brasil de Fato. Os sindicalistas buscam ampliar as bancas dos sindicatos com distribuição do Brasil de Fato, alcançando para além da sua categoria, com notícias gerais e não apenas corporativas.

Há uma caminhada muito grande ainda para, de fato, respeitarmos o espaço do jornalismo, que exige a compreensão sobre a diferença de cada ferramenta, não misturar agitação e propaganda e restabelecer o diálogo direto com o povo.

Democratização da mídia: Frentex

Nesse momento de golpe, retirada de direitos e cerceamento de liberdades e formas de expressão – na perseguição contra jornalistas e contra blogueiros –, é importante também fazer a luta nacional pela democratização da comunicação, em 15 a 21 de outubro, do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), em articulação com a Frentex do Paraná e com a Frente Brasil Popular.

Essa tarefa de debater a comunicação é urgente, hoje neste momento de golpe em que refluímos o mínimo que se havia conquistado no período anterior – talvez o melhor exemplo disso seja os ataques contra a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Como havia anotado Eduardo Galeano: “Trabalhadores do mundo, uni-vos! (Último aviso)”

Vamos fazer algo e construir a mídia dos trabalhadores? Ou ficar apenas reclamando?

* Pedro Carrano é jornalista, assessor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) e integra a coordenação do jornal Brasil de Fato Paraná.