Professores gaúchos dizem que ameaças do governo não enfraquecem a greve

Centenas de pessoas compareceram na Praça da Matriz, em Porto Alegre




FonteLuís Eduardo Gomes - Sul21

Assembleia Popular dos Professores Estaduais, CPERS, em frente ao Palácio Piratini, contra o parcelamento de salário de Sartori. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Centenas de pessoas, incluindo pais e alunos da rede de educação estadual, participaram na manhã desta terça-feira (3) de uma assembleia do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato) na Praça da Matriz para demonstrar apoio à greve da categoria, iniciada no dia 5 de setembro.

Raquel, mãe de uma aluna de Tramandaí, afirmou que toda a comunidade está revoltada porque os filhos estão sem aula, mas sabem que é o governo que está mantendo os professores fora das salas com o não pagamento dos salários.

Já os estudantes João Gabriel e Gabriel, do Instituto Estadual de Educação Marcílio Dias, afirmaram que quem colocou os professores na greve foi o governador Sartori – e que estão na luta em apoio e por um futuro melhor. “De amor não vive o professor”, disse João Gabriel.

A professora Juci, de Rio Grande, disse que fora trocada de escola após participar da greve no ano passado e que inicialmente não queria paralisar esse ano, mas se viu obrigada após o governo pagar uma parcela de apenas R$ 350 no salário de agosto. Lígia, professora contratada que trabalha em uma escola da colônia Z3, em Pelotas, diz que não abrirá mão de participar da greve e que, se for demitida, sairá de cabeça erguida.

Professor aposentado, Nei Sena, de Cachoeira do Sul, diz que lembra da primeira-dama Maria Helena Sartori, que também é professora estadual aposentada, participando de greves do Cpers durante a ditadura e ajudando a categoria a conquistar direitos. Nei lamentou que ela agora tenha “virados às costas” e ajudado o marido a tirar direitos da categoria.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

‘Sem alcaguetes’

Presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer afirmou que a greve cresceu após a decisão do governo Estado de mudar a fórmula de pagamento do funcionalismo neste mês, passando a priorizar os servidores com menores salários com o pagamento integral e atrasando o salário dos demais. Para ela, apenas uma parte da categoria foi paga no dia 29 de setembro, quando foram integralizados os vencimentos de quem recebe até R$ 1.750; o restante não recebeu nada até agora. A expectativa é que a maior parte dos professores só tenha os salários pagos no dia 11.

Helenir também questionou a decisão governamental, anunciada ontem, de que irá demitir os professores e funcionários de escolas contratados emergencialmente que estão participando da greve. Segundo ela, o governo fez um pedido para que as direções das escolas informem quem está paralisado. No entanto, a sindicalista disse que é preciso mostrar que não há “alcaguetes” na categoria e que o sindicato está orientando as direções para que nenhuma informação a respeito disso seja passada pelo governo. “Aquele diretor que não tiver coragem suficiente pra enfrentar de cabeça erguida aquele que nos persegue, me desculpa, não tem condições de sere diretor de escola”, disse Helenir no carro de som.

Segundo Helenir, há três condições fundamentais das quais a categoria não abre mão para sair da greve: o pagamento dos dias parados, o respeito à gestão democrática e nenhuma punição aos professores contratados. “Essa categoria enfrentou uma ditadura e se precisar enfrentaremos de novo. Não voltaremos com punições”, disse. “O governo, em vez de tentar nos intimidar, ganharia muito mais se nos apresentasse uma proposta na mesa de negociação.