Esqueçamos de tudo





Aécio Neves. Foto: Lula Marques/AGPT

MEMÓRIA SELETIVA | Esqueçam os argumentos dos 44 senadores que decidiram ignorar a mala com dois milhões de reais para Aécio Neves (PSDB). São palavras vazias. Não convencem nem a eles mesmos. 26 dos salvadores do tucano mineiro, por exemplo, votaram favorávelmente quando o afastamento era do senador Delcídio Amaral. Se esqueceram que naquela época não havia interferência do Supremo Tribunal Federal ao entender que havia obstrução de justiça.

Também é melhor sofrer de amnésia do que ser lembrado que PMDB, PSDB, PR, PP, PRB, PTC e PROS orientaram pelo retorno de Aécio às atividades parlamentares e o fim do retiro forçado. Partidos esses que há pouco mais de um ano lutavam bravamente contra qualquer possibilidade de impunidade.

LEMBRAM DO AUXÍLIO MORADIA? | É bom não ser lembrado do voto decisivo de Cármen Lúcia devolvendo aos senadores a faculdade de manter ou afastar políticos acusados de corrupção. Imagina que agonia deve ser saber que você contribuiu indiretamente ou diretamente para que privilégios sejam mantidos. Aliás, que tal lembrar, ou ser esquecido, que a presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)  havia prometido divulgar, em setembro, a lista dos salários e regalias dos tribunais de justiça e promotorias federais. Acho que a turma se esqueceu.

SENZALA | Como também ninguém mais deve se lembrar que a definição de trabalho escravo foi atualizada pela Organização Internacional do Trabalho, prevendo que atividades degradantes e desumanas devem ser classificadas como trabalho escravo. Mas, para os senhores de engenho, digo, ruralistas, escravidão ocorre apenas quando um negro é amarrado ao poste e leva umas chibatadas. Em outros casos como trocar comida por trabalho (discutido na reforma trabalhista) não é de garbo e elegância ficar lembrando. Tampouco destacar que a portaria é resultado do toma lá dá cá para salvar Michel Temer de investigação por corrupção passiva.

É FRIBOI? | O melhor mesmo é fechar os olhos para não ver que aquele que denunciou a corrupção, Joesley Batista, está preso, e aqueles que se beneficiaram dela, Temer e Aécio, estão soltos.

RECEITA DE BOLO | Resultado do esquecimento coletivo da turma que frequentou a cozinha recentemente para pegar panelas e bater em nossos tímpanos, protestando contra a perda de seu candidato nas eleições (Aécio Neves). É, não vamos esquecer quais eram seus motivos, pois não era o combate à corrupção.

ANOTE | E de amnésia em amnésia, talvez o esquecimento seja mais confortante do que lembrar de Eduardo Cunha comprando o impeachment, que R$ 51 milhões foram achados em apartamento de Geddel Vieira, que o MBL não protesta mais contra o governo, que o lucro dos bancos cresce na medida em que o desemprego permanece, que subiu o gás, a gasolina, mas a FIESP não está pagando o pato, entre outros.

Quem sabe essa turma toda se esquece de ir votar em outubro de 2018 e não reelege os senadores e deputados que hoje esqueceram a vergonha na cara em casa, mas sem recolhimento domiciliar.