VÍDEO: Discurso da meritocracia esconde uma sociedade de privilégios

Professor mostra, por meio de uma corrida, como ocorrem as desigualdades sociais





No Brasil, os opositores das políticas de cotas e contra programas sociais repetem sempre o argumento de que é necessário valorizar a meritocracia. Essas pessoas partem do princípio que dentro da sociedade todos têm oportunidades iguais e que aqueles que são mais capacitados se destacam. Negam, portanto, que a sociedade é desigual e que é papel do Estado corrigir diferenças para diminuir as distâncias de formação e oportunidades entre as pessoas. Para os defensores da meritocracia, cotas para negros, mulheres, Bolsa Família, financiamento da educação, entre outros, criam mecanismos de privilégios justamente para quem não se esforçou. Segundo eles, é necessário dar a vara, não o peixe.

Esse tipo de argumento não é exclusividade dos brasileiros. Ele é resultado de uma cultura liberal que prestigia o interesse individual a cima do coletivo. E é esse conceito que um vídeo provavelmente gravado em uma universidade dos Estados Unidos da América questiona. A gravação começa com questionando: “Quando você está acostumado com privilégios, igualdade de direitos soa como opressão”.

Após isso, o vídeo mostra jovens enfileirados para uma corrida. O prêmio, cem dólares. Antes do início da prova, porém, o professor dita as regras da disputa. Ele desalinha os competidores ordenando para cada pessoa que responder positivo a uma pergunta dê dois passos a frente. Aquelas pessoas que não se encaixam positivamente no questionamento devem ficar paradas. Após isso, as perguntas confrontam a formação desses jovens, revelando quem teve mais oportunidades do que esforço para chegar até aquela corrida.

O primeiro questionamento já é devastador. Diz o orientador: Dê dois passos a frente quem ainda têm os pais casados. A grande maioria se movimenta, mas os negros ficam para trás. Em seguida, o professor mandar dar dois passos adiante quem cresceu com a presença dos pais. Quanto mais ele pergunta, maior é a diferença entre os jovens. Essa separação deixa no ar sentimento de agonia na turma, principalmente entre os negros, que não avançam nenhum passo.

Após a distância entre eles ficar bem evidente, o professor explica o exercício. “Cada declaração que eu fiz não teve nada a ver com aquilo que você tenha feito, nem com as decisões que você tomou. Todos nós sabemos que as pessoas aqui da frente tiveram uma chance maior de ganhar a corrida da vida”. Após isso, o orientador incentiva os jovens a conhecerem a realidade dos outros colegas “porque a realidade é que se fosse uma corrida justa e todos estivessem alinhados lá trás, eu garanto que aqueles caras ganhariam de vocês com muita facilidade.

Ah, antes de ver o vídeo, seria interessante refletir se o professor, ao mostrar a diferença de oportunidades, classe social e raça entre os jovens, não estaria fazendo “doutrinação” no ambiente educacional. No Brasil, é bem possível que os defensores da “escola sem partido” – ou da censura prévia – repudiassem o exercício. O melhor, no entanto, é ter a esperança de que a grande maioria veja no orientador alguém que estimule as pessoas a pensarem e correrem com o objetivo de reduzir a desigualdade social. Afinal, esse é o verdadeiro mérito de uma sociedade justa.