“(…) em Nápoles, Maradona foi Santa Maradonna e São Gennaro se transformou em São Gennarmando. Nas ruas vendiam-se imagens da divindade de calções, iluminada pela coroa da virgem ou envolta no manto sagrado do santo que sangra a cada seis meses, e também vendiam-se ataúdes dos times do norte da Itália e garrafinhas com lágrimas de Silvio Berlusconi. Os meninos e os cachorros usavam perucas de Maradona.”. Trecho de “Futebol ao sol e a sombra”, escrito pelo uruguaio Eduardo Galeano, que dedicou ao craque Diego Maradona quatro páginas de seu livro, reconhecendo sua notável importância com a crônica: “Jogou, venceu, mijou, perdeu”

Há quem o ame, a quem o odeie e há quem seja “devoto”, mas algo é inegável: Diego Maradona transcende as quatro linhas. Deixemos de lado o velho clichê e a rivalidade eterna sobre “quem foi o melhor jogador da história”, o fato é que Maradona representa mais aos argentinos do que o rei Pelé aos brasileiros. Um dos motivos, talvez, seja o fato de Maradona nunca ter negado Diego. O mesmo não se pode dizer de Pelé com Edson.

No dia 25 de outubro de 2017 completou-se duas décadas da aposentadoria de Diego dos gramados, em partida disputada pelo seu time de coração, o Boca Juniors, no tradicional clássico contra River Plate no Monumental de Nuñes. Neste 30 de outubro, “El Pibe de Oro” completa 57 anos. Em homenagem as datas, o Porém listou 10 momentos em que Maradona foi maior que Pelé (ou pelo menos que Edson – se é que tem como separar as duas figuras).

1- Quando por várias vezes posicionou-se contra João Havelange, Joseph Blatter e outros chefões da FIFA, como um dos grandes críticos do atual sistema do futebol mundial. “Há uma máfia. Se você não paga um agente, não entra”, detona.

2- Quando dividiu palco com Hugo Chávez e Cristina Kirchner no estádio Mundialista, em Mar Del Plata, para uma manifestação durante a Cúpula das Américas contra o ex-presidente dos EUA George W. Bush. “Ele é um assassino”, declarou.

3- Quando manifestou seu apoio à Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula. As mensagens postadas em sua página oficial do Facebook contrastaram com o silêncio dos boleiros brasileiros a respeito das movimentações que culminaram no golpe em 2016.

“Soldado de Dilma e Lula”. Reprodução Facebook

4- Quando enviou mensagem de apoio ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e ofereceu-se como “soldado” da revolução bolivariana para combater o imperialismo durante os protestos coordenados pela elite venezuelana.

Maradona, amigo da revolução bolivariana. Foto: Joka Madruga

5 – Quando inspirou a criação da “Igreja Maradoniana”, a qual os devotos do “Santo” batizam seus filhos e se casam durante os cultos em Buenos Aires. Diego também é “Santa Maradona” em composição do músico Manu Chao: https://youtu.be/lJi0BAdK0Nw

6 – Quando driblou em uma única jogada George W. Bush, Margaret Thatcher, príncipe Charles, Tony Blair e Ronald Reagan ao som de God Save the Queen, do Sex Pistols, em animação do documentário do cineasta Emir Kusturica.

Diego com o cineasta Emir Kusturica. Divulgação Kusturica

7 – Quando disputou uma partida de futebol ao lado do presidente da Bolívia Evo Morales no topo de uma montanha, a seis mil metros de altura, quando a FIFA tentou proibir os jogos na altitude.

8 – Quando cravou na pele sua ideologia. Ele possui em seu braço a tatuagem de Che Guevara e de Fidel Castro na perna, o ex-líder cubano o qual considerava “como um pai” desde que esteve em Cuba pela primeira vez para tratamento.

Reprodução YouTube

9 – Quando se manifestou recentemente sobre o caso do desaparecimento do ativista argentino Santiago Maldonado. Ele culpou o presidente Macri. Santiago foi encontrado morto no dia 17 de outubro.

Santiago Maldonado foi o primeiro desaparecido desde a abertura política no país / Notas Periodismo Popular

10 – Quando transformou uma partida de futebol em batalha geopolítica na Copa de 1986. Com dois dos gols mais marcantes da história das copas, o “Mão de Deus” e o “Gol do Século”, Diego liderou a vitória contra os ingleses e contribuiu para reconstruir a auto estima do povo argentino.