Foto: Leandro Taques

André Machado*

Evidente que há uma acomodação das esquerdas ao calendário eleitoral de 2018, diante da crescente impopularidade do governo Temer. O PT aposta suas fichas na construção da candidatura do Lula, que aparece nas pesquisas com mais de 30% de intenção de votos. Outros partidos da esquerda ou da centro-esquerda (PSOL, PCdoB, PDT) apresentam suas alternativas. Em todo caso, a linha política fundamental é a construção das candidaturas para a disputa em outubro de 2018.

Pela lógica, a derrubada do governo Temer desaparece da ordem do dia. A caravana do Lula pelo Brasil, maior movimentação popular de massas que ocorre no país neste momento, tangencia a palavra de ordem cristalizada no processo de resistência ao golpe: “Fora Temer” e “Diretas Já”. No twitter oficial da caravana, isso fica claro:

“Não queremos gritar mais Fora Temer. Queremos gritar o nome de um futuro presidente que vai ajudar a reconstruir o Brasil”. Ou seja, página virada, agora é 2018.

O problema é que o Temer, mesmo com menos de 3% de aprovação e com fartas evidências de seu envolvimento em esquemas de corrupção, continua aplicando um acelerado processo de pilhagem da nação e dos direitos sociais. Na última semana, entregou mais de R$ 1 tri para a Shell, Exxon e outras multinacionais do petróleo, através dos leilões de áreas de exploração do pré-sal. Está na agenda do seu governo, ainda, a Reforma da Previdência, a privatização de várias estatais e o ataque a outros tantos direitos dos trabalhadores e jovens. O que sobrará em outubro de 2018?

Claro que a esquerda resiste. A FUP fez um grande ato no Rio de Janeiro contra os leilões do pré-sal; o MST organizou uma semana nacional de lutas pela Reforma Agrária; o MTST faz uma ocupação gigante em São Bernardo pela moradia; a CUT chama uma mobilização no dia 10/11 contra a reforma da previdência e trabalhista. O próprio Lula ameaça, caso eleito, revogar as medidas de Temer através de um referendo, que precisaria da aprovação do Congresso Nacional. Todavia, nesse momento, o que reforçará a resistência e garantirá a unidade das lutas dos trabalhadores e jovens, do campo e da cidade, de todos os setores e partidos do campo democrático e popular, continua sendo o fim imediato deste governo, com eleições diretas já.

Além do mais, é preciso lembrar que há um Estado de exceção no Brasil depois do golpe de 2016 e as instituições, nos três poderes, agem contra a democracia. As consequências desta caracterização precisam ser tratadas com a importância devida. Quem garante, portanto, que haverá eleição em 2018 ou que o Lula será candidato? Como acreditar que as forças reacionárias (e milionárias) que depuseram a Dilma para adotar um programa radical contra o povo, agora aceitarão passivamente a retomada de uma “estabilidade democrática” que ameace seus interesses?

É verdade que podemos não conseguir tirar o Temer. É verdade também que, mesmo que o Temer caia, esse Congresso Nacional e o STF imponham um sucessor indireto para continuar o programa de ataques ao povo. Mas quem garante? Nossa ação pode mudar a realidade e esse processo de luta pode ser capaz de construir uma relação política ainda mais sólida com a maioria do povo que não aceita mais a continuidade deste governo.

A esquerda precisa colocar novamente o “Fora Temer” e as “Diretas Já!”, para além das palavras de ordem, na ordem do dia e ousar reunir forças para convocar mobilizações nacionais para derrotar esse governo!

*André Machado é bancário e presidente municipal do PT de Curitiba.