Lula, PT e as demais candidaturas de esquerda

Embora pareça divisão, esquerda pode encontrar discurso unificado para 2018





Lula acompanhado de Boulos, que foi cotado para ser candidato do PSOL nas eleições. Foto Ricardo Stuckert

TABULEIRO | No fim de semana, o jogo eleitoral se moveu na esquerda. Lula se aproximou de golpistas, colocando em xeque o discurso de sua militância. O PCdoB lançou uma mulher candidata, quebrando a tradicional aliança com os petistas. O PSOL lançou candidaturas de desconhecidos para governos estaduais e refutou grandes quadros para o pleito nacional. Ciro ainda busca ser palatável dentro da desconfiança de todos os lados e Marina tenta levar o partido à direita, embora as principais figuras partidárias tenham posicionamento progressista.

VOLTE UMA CASA | O movimento de Lula de aproximação com golpistas, mesmo os do PMDB, é um amargo remédio dado à militância. O perdão é uma quimioterapia que pode matar a ascensão pretendida pelo político. Claro que paulistas dirão que esse pragmatismo é feito com parcelas do PMDB que se opuseram ao golpe como Roberto Requião do Paraná e Renan Calheiros, que é inimigo eleitoral de Temer. Contudo, o perdão pode ser estendido a outros partidos que adoram navegar conforme a maré quando observam canoas naufragando. É o caso do PSD. Contudo, não cabe a Lula esse perdão. Essa é uma decisão que passa por Dilma imaculada e pela militância que sofreram as chagas das más alianças. Se Lula quer perdoar, o seu algoz é Sérgio Moro e a grande imprensa.

Manuela D’Ávila. Foto: Marcos Eifler/Agência ALRS

RAINHA | O lançamento da candidatura de Manuela D’Ávilla, do PCdoB, pegou muita gente de surpresa. Não demorou para vir a afirmação de que os comunistas praticavam a velha oração de dividir as esquerdas nas eleições. Porém, essa observação segue o antigo testamento político. No novo, o partido precisa fazer legenda para manter-se vivo. Outro ponto importante é a oportunidade de o partido fazer discurso anticapitalista e ideológico de uma forma que o PT não está mais acostumado a fazer. Ou seja, aos comunistas cabe introduzir alguns temas na agenda eleitoral. Não à toa, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deu os parabéns pela candidatura e já acenou aliança no segundo turno ou no novo governo. Ou seja, não houve surpresas internas com o anúncio.

EM ÉLE | Também não surpreende a falta de apetite eleitoral presidencial do PSOL. É fato que o partido não aceita aliança com o PT. Tá certo, é um direito dele. A sigla nasceu da dissidência e não vê nas estrelas sinais de mudança de postura e táticas que poderiam levar a uma aproximação. Por outro lado, o PSOL lança candidaturas majoritárias sem muita luz. Enquanto isso, as figuras ilustres como Chico Alencar, Ivan Valente, Erundina, Jean Wyllys e Marcelo Freixo tentam apenas preservar seus mandatos legislativos, atingindo a cláusula de barreira. Bem diferente  do que fizeram na prefeitura do Rio de Janeiro. Logo, se não emplacarem Boulos como candidato, restará Luciana Genro de novo, que mais parece uma candidata auxiliar da direita ao proferir ataques ao petismo.

Marina Silva. Foto: José Cruz/Agência Brasil

ZWISCHENZUG | Em más redes está Marina Silva. Ela volta a flertar com o PSB, partido que utilizou de proveta na última eleição, para tentar se firmar como terceira via. A questão é que a sua falta de empenho para impedir o golpe, a retirada de direito dos trabalhadores, o apoio dado a Aécio Neves no segundo turno e a sua proximidade com o capital financeiro fazem de sua candidatura uma jogada de centro-direita. Marina está entre Bolsonaro e Alckmin, não entre Lula e Bolsonaro. Para piorar (para Marina), o PSB fez em 2017 uma conversão à esquerda, pela manutenção dos direitos da classe trabalhadora e os dois políticos da REDE mais conhecido, Molon e Randolfe, são identificados com o campo progressista.

A TORRE | A esquerda ainda tem a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Sem Lula, ele deve ser o maior beneficiado pela migração de votos. Isso se o petista assim direcionar. Contudo, o cearense pisa em ovos, pois quer ser viável no campo progressista, mas não pode esperar o amém do PT para propor alternativas ao país.