Designer cria bonecos ‘Coxinhas em Ação’ inspirado nos G.I. Joe

Linha de personagens ainda não existe para venda. O conceito foi desenvolvido pelo carioca Diego Leal que, promete, vai doar parte dos lucros para a caridade.





Reprodução: Diego Leal / badsamaritan.cc

Se você tem mais de trinta anos, com certeza se lembra dos bonecos “Comandos em Ação”, os famosos “G.I. Joe”. Talvez você tenha, inclusive, brincado com alguns deles na sua infância. Quem sabe não foi ou ainda é um desses colecionadores com um amplo acervo de personagens de plástico, cabeças arrancadas e braços amputados. Os “Comandos em Ação” foram desejo de consumo de muito pirralho e um forte braço ideológico de nossa cultura ocidental heteronormativa.

Tendo como ponto de partida os “G.I. Joe”, o designer carioca Diego Leal criou a linha “Coxinhas em Ação”, uma piada com a crise política atual. Se na década de 1960 – quando os personagens norte-americanos foram criados – eles serviam para inspirar as crianças contra os comunistas, os bonecos de Leal têm o intuito de chamar a atenção para o atual “cenário político bizarro do país, onde corruptos participam ativamente do processo de julgamento de outros corruptos”, em suas próprias palavras. Para Leal, já que o PT tinha seu próprio quinhão de maldição midiática ininterrupta, ele resolveu centrar fogo no outro polo do espectro político. “Achei de bom tom começar implicando com o lado ‘coxinha’. Confesso que fico inspirado com o senso de justiça deturpado, o saudosismo da ditadura, valores familiares tendenciosos, nacionalismo extremo e outras facetas surreais.”

A linha de bonecos “Coxinhas em Ação” tem pelo menos cinco personagens, tais como o Paneleiro Raivoso e o Presidente Decorativo. Cada um deles tem sua própria descrição e personalidade. Vejamos: O Paneleiro Raivoso “só protesta nos domingos. Pega o metrô depois de assistir flashes da manifestação no Esporte Espetacular”. Já o Presidente Decorativo inicia seu mandato “após um pacto bem-sucedido entre o legislativo, o judiciário e o capiroto”. É o que atesta as embalagens de cada um dos produtos.

Mas uma ressalva deve ser feita, os bonecos de fato não existem. Diego Leal criou a linha como um conceito, mas tem nos planos a fabricação dos brinquedos. “Hoje em dia ficou bem acessível imprimir em 3D”, ressalta o designer. Ele ainda explica que seria necessário fazer os modelos, planejar as embalagens, além de demais processos para dar vida ao produto. “Preciso juntar uma galera interessada no projeto”, conspira.

O intuito de Leal é que, com as vendas dos bonecos, possa reverter parte do lucro para algum programa social. “Se render algum trocado”, como faz questão de mencionar. “Já pensou a ironia de ter personagens coxinhas gerando renda para a caridade? Logo eles que odeiam sustentar ‘vagabundos’ e que não levam desaforo (ou bandidos) para casa”, se diverte.

Aliás, o bordão “tá com pena? leva para casa” inspirou um dos melhores produtos da linha. Trata-se de “Chelly pocket, a repórter reacinha”, claramente inspirada naquela outra jornalista que viralizou nacionalmente após um editorial em que defendia os agressores que tinham prendido um garoto em um poste por suspeita de roubo. A boneca vem acompanhada de um microfone, uma pistola, um poste com um adolescente amarrado e um chicote. Recomendado “para menores infratores com mais de quatorze anos”, diz a embalagem.

Este e outros trabalhos de Diego Leal podem ser vistos no site badsamaritan.cc.