Cerca de 60 famílias de agricultores sem terra do acampamento Irmã Dorothy, a seis quilômetros de Barbosa Ferraz, no noroeste do Paraná, estão sob ameaça de despejo por parte do Governo do Estado. A área – de 415 hectares – foi ocupada em 2005 por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O conflito é um dos mais emblemáticos da luta pela terra no Paraná.
No local, os sem terra criaram toda a infraestrutura com recursos próprios e cultivam agricultura diversificada (verduras, frutas, feijão e milho), produzem leite e criam suínos. Ao longo desses anos, a comunidade Irmã Dorothy também tem contribuído para o desenvolvimento de Barbosa Ferraz, movimentando o comércio regional e aumentando a cota do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que leva em consideração o número de habitantes dos municípios.
Nesta segunda-feira (20) foram registradas movimentações policiais próximo ao acampamento, conforme relatos dos acampados. Informações que chegaram até à comunidade é que a reintegração aconteceria ainda nesta terça-feira (21), porém isso não foi confirmado pelo assessor de Assuntos Fundiários do Paraná, Hamilton Serighelli. Em contato com o Porém, ele informou que tratativas para uma saída pacífica para o impasse estão sendo buscadas. O assessor afirmou ainda que o impasse esbarra na falta de disposição do proprietário em negociar com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Até 2015 o Incra manifestava o interesse em comprar a fazenda, porém o órgão não se manifestou posteriormente para resolução do conflito. Essa postura tem sido questionada pelo MST. “O Incra age como se não fosse o responsável direto por isso. Se comporta como rege o núcleo central do golpe no governo federal. Aos pobres e desprotegidos, nada”, afirma João Flávio, da coordenação estadual do MST, acrescentando que o cenário de crise no campo tem se aprofundado desde o golpe colocou Michel Temer na presidência da república.
O coordenador do MST também destaca o agravamento do conflito agrário no Paraná em decorrência da política da Casa Civil do Governo do Estado, apontando o secretário Valdir Rossoni como articulador dessas recentes ações com uso de força policial. “O Rossoni é o porta-voz público do capital agrário no Paraná e disputa com força seus interesses dentro do governo estadual, mas seus interesses não interessam à maioria do povo brasileiro”. Para João Flávio, “um despejo no acampamento Irmã Dorothy será uma das maiores injustiças da década”.
Outros despejos
Em 19 de outubro 300 famílias que ocupavam a fazenda Lúpus, em Alto Paraíso, também no noroeste do Estado, foram despejadas em ação da polícia do Paraná. Eles ocupavam um latifúndio improdutivo de 1200 alqueires do grupo Nutriara, desde 27 de julho deste ano. A reintegração contou com um efetivo policial de 300 homens e foram constatados abusos durante a operação. Outra comunidade ameaçada de despejo no fim do mês passado é Maila Sabrina, em Faxinal, no norte do Paraná. Após pressão, a reintegração foi suspensa pelo governo estadual.
