Onde está o Racismo no Brasil?

Muitos são os elementos que estão envoltos nestas questões, mas uma coisa é fundamentalmente óbvia. O racismo é velado na maioria dos locais





Ernandes Macário*

Uma parcela de nossa sociedade, quando surge um caso de racismo na mídia, sempre vem a público dizer que o racismo no Brasil é uma questão cultural e de classe. Em momento algum se tem como foco um problema de cor de pele, e para ilustrar cita alguns casos em que, essa mesma cor da pele foi fundamental para sua ascensão. Faz-se necessário refletir que as questões que envolvem o racismo não é apenas um problema cultural ou de classe, mas que tem sua origem na semântica de sua própria palavra. Discriminação social baseada no conceito de que existem diferentes raças humanas e que uma é superior às outras.

Muitos são os elementos que estão envoltos nestas questões, mas uma coisa é fundamentalmente óbvia. O racismo é velado na maioria dos locais. Em qualquer classe social, exercendo qualquer posto de comando, seja em instituições públicas ou privadas, partidos políticos de direita, de esquerda ou de centro, em espaços ocupados por mérito intelectual e de trabalho, os negros e as negras são tratados em sua maioria como adjetivos, nunca, porém, como instrumento principal de transformação. O processo educacional tem a capacidade de transformar a concepção dos fatos e dos abusos cometidos historicamente ao longo de mais de 500 anos de descoberta do Brasil. O mesmo chicote que batia só mudou de dono e de forma, mas os gritos de dor continuam os mesmos. Neste sentido ainda existe a esperança de que os mais jovens possam refletir através de histórias contadas por personagens reais, e não pelas narrativas que foram contadas nos livros, com uma visão elitista, branca e dominadora, negando a verdadeira história dos negros.

Existe uma necessidade urgente de se dar voz aos homens e mulheres negras, transformando-os em relatores reais de luta, que não se vitimizaram ao sofrerem danos pelo racismo. Segundo Kabengele Munanga, “o resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra (…) Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos tendo em vista que a cultura do qual nos alimentamos cotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um do seu modo na formação da riqueza econômica e social e de identidade nacional”.

O registro e o compartilhamento desses conhecimentos, junto a população e principalmente às crianças e jovens propõe uma visão real da própria vida, mostrando a elas o direito de poder se comunicar com o mundo, e que a educação e a informação devem estar alinhadas com as diversas expressões, com uma linguagem de fácil entendimento e assimilação.

*Ernandes Macário é pós-graduado em Educação Integral, Cidadania e Inclusão Social pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foi secretário-adjunto de Igualdade Racial do Distrito Federal e ouvidor nacional da Secretaria de Igualdade Racial do Ministério dos Direitos Humanos.