Jornalistas da EBC e sindicatos repudiam racismo de Rimoli e cobram afastamento

Trabalhadores da empresa seguem em greve. Paralisação tem adesão de 70% da categoria




FonteRBA - Rede Brasil Atual

Laerte Rimoli. Foto: Marcelo Casal Jr/ Agência Brasil

Trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) divulgaram nota nesta quarta-feira (22) em repúdio às ataques racistas do presidente estatal, Laerte Rimoli, à Taís Araújo e seu filho. O documento é endossado pelos sindicatos dos jornalistas de São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal.

Nos últimos dias, Rimoli usou as redes sociais para compartilhar memes que ironizavam declaração da atriz sobre o racismo cotidiano sofrido pelo seu filho. Para os trabalhadores, “Rimoli não desrespeitou só a atriz Taís Araújo, mas toda sociedade brasileira e a própria EBC”.

“Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos”, diz um trecho da nota. Os trabalhadores da EBC dizem ainda que a postura de Rimoli fere os códigos de ética dos servidores públicos e dos jornalistas e exigem o seu afastamento.

Eles reivindicam “ação imediata” do Ministério Público Federal (MPF) contra as atitudes do presidente, e lembram que, antes da chegada de Rimoli, a EBC foi a primeira TV aberta a exibir telenovelas com elenco majoritariamente negro, além de desenhos infantis protagonizados por personagens negros.

Também nesta quarta-feira, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) divulgou nota em que formalizam o pleito pelo afastamento do presidente da EBC e que confirma que entrarão com representação no MPF e na Comissão de Ética Pública da Presidência da República contra Rimoli, conforme a RBA antecipou.

Confira a nota dos trabalhadores da EBC.

Rimoli não desrespeitou só a atriz Taís Araújo, mas toda sociedade brasileira e a própria EBC

Nós, representantes dos trabalhadores em greve da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), repudiamos com veemência os ataques racistas do presidente da EBC, Laerte Rimoli, à atriz Taís Araújo e à sua família, em pleno mês da Consciência Negra, que atingiram toda sociedade brasileira e os princípios fundadores da Empresa Brasil de Comunicação.

As publicações racistas foram compartilhadas no perfil do presidente no Facebook, em modo público. Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos.

Com as postagens, Laerte Rimoli descumpre a própria lei que regulamenta a EBC e se coloca contra o papel social da comunicação pública ao publicar comentários preconceituosos, contra os códigos de ética do serviço público e dos jornalistas.

Com nossas produções no rádio, na televisão e na web, nós, empregados e empregadas da EBC, lutamos diariamente contra a discriminação e o preconceito racial tão presentes na nossa sociedade. Um exemplo disso é que a EBC foi pioneira em práticas de afirmação contra a discriminação racial. Fomos a primeira TV aberta a exibir telenovelas com elenco majoritariamente negro, tivemos o primeiro correspondente fixo no continente africano e6 fomos a primeira televisão a exibir um desenho infantil com personagens negros. Assim, não aceitamos tal postura e exigimos respostas institucionais a esse desrespeito, incluindo ação imediata do Ministério Público Federal.

A atual gestão da EBC chegou junto à Medida Provisória 744, que entre outras providências extinguiu o Conselho Curador, um importante órgão que garantia a participação da sociedade na construção editorial da Empresa, colocando em xeque o compromisso com a diversidade que é natural da comunicação pública. O racismo, escancarado pelas piadas compartilhadas pelo atual diretor-presidente, hoje se reflete também dentro da EBC: contam-se nos dedos os funcionários que, atualmente, lideram equipes, têm funções de confiança ou estão em posição de destaque, como a reportagem em vídeo e a apresentação de programas. Em uma empresa onde a diversidade de gênero, raça e orientação sexual deveria ser prioridade, repete-se o triste estigma social e estético, que coloca as mulheres negras ocupando posições desfavoráveis ao seu protagonismo, prejudicando a imagem de representatividade que deveria chegar a cada cidadão e cidadã – os primeiros e mais importantes focos da comunicação pública.

A EBC pertence à sociedade brasileira, composta em sua maioria por negros e negras. Assim, não nos calaremos frente a mais esse retrocesso na defesa da comunicação pública do país. Por esses motivos, exigimos a imediata exoneração de Laerte Rimoli e a substituição dele levando em conta nomes indicados em lista tríplice pelo conjunto de empregados da EBC.

Racistas não passarão!

Comissão de Empregados da EBC

Sindicatos dos Jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal

Sindicatos dos Radialistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal

Greve da EBC completará dez dias nesta sexta-feira

Foto: Divulgação/SJPDF

Enquanto isso a greve dos trabalhadores da EBC completou nove dias nesta quinta-feira (23). Nesta sexta-feira (24) haverá nova assembleia, às 13h, mas a expectativa é de manutenção do movimento, já que a empresa se mantém intransigente e até lá não há nenhuma reunião agendada entre trabalhadores e patrões.

A EBC entrou com pedido de dissídio coletivo, alegando que a greve é abusiva, e exigiu o retorno de 60% do efetivo às atividades. No entanto, segundo o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, a paralisação foi deflagrada devido à intransigência da EBC. A empresa apresentou proposta de reajuste zero e, de acordo com a entidade, impõe a retirada de direitos e benefícios.

Os patrões suspenderam as negociações. “A empresa vem atuando com ações contínuas de ataques aos trabalhadores. A categoria está mobilizada mostrando que não aceita o congelamento de salário e a retirada de direitos”, diz o coordenador-geral do sindicato, Gésio Passos. Ele alega que a categoria quer negociar, mas a empresa não tem respostas satisfatórias.

A paralisação tem a adesão de cerca de 70% dos trabalhadores do quadro efetivo, segundo o sindicato, e a categoria reivindica 4% de reajuste para repor a inflação do período. Depois de oito rodadas de negociação, a direção da EBC não aceita o reajuste de nenhuma cláusula econômica e mantém a proposta de reajuste zero, tanto para salários como para benefícios.