Na Argentina, levante popular derruba votação da reforma da Previdência

Milhares de trabalhadores cruzaram os braços, nesta sexta-feira (15), em uma greve geral contra a votação da proposta




FonteColetivo Passarinho - Buenos Aires

Foto: Coletivo Passarinho

Dezenas de milhares de argentinos cercaram os arredores do Congresso, nesta quinta-feira (14), contra a votação da reforma da Previdência encampada pelo governo de Maurício Macri. Em resposta ao repúdio popular massivo, mais de mil oficiais das forças policiais argentinas foram colocados nas ruas de Buenos Aires.

Os próprios parlamentares governistas foram obrigados a suspender a votação da reforma previdenciária argentina após os episódios de violência que deixaram dezenas de manifestantes feridos, além de dois parlamentares da oposição.

Os protestos desta quinta-feira começaram às 9h da manhã e reuniu milhares de trabalhadores, convocados por centrais sindicais, contrários à reforma que pretende economizar 100 bilhões de pesos argentinos (aproximadamente R$ 20 bilhões) para o Estado às custas de 17 milhões de aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais. Os manifestantes marcharam pela Avenida de Maio em direção ao Congresso Nacional, mas tiveram que recuar ao serem reprimidos pelas forças policiais.

Mais de mil oficiais da Polícia Federal, Gendarmeria (a Força Nacional Argentina) e Polícia de Segurança Aeroportuária participaram da ação. Bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos de água com corante eram atirados nos manifestantes.

Enquanto isso, dentro do Congresso, os policiais impediam a entrada de deputados da oposição na sala de votação. Entre eles, Axel Kicillof, ex-ministro da Economia do governo de Cristina Kirchner. Ao menos dois deputados ficaram feridos. Um deles foi levado em uma ambulância após receber um golpe de um dos policiais.

Também houve muita confusão entre os parlamentares. Para iniciar a sessão, eram necessários 129 deputados. O presidente da parlamento, Emilio Monzó (PRO-Cambiemos), da base governista, anunciou às 15h30 que o quórum mínimo tinha sido atingido, mas a oposição questionou o número e a validade da sessão, e denunciou a repressão policial. Houve muita discussão e até empurra empurra e, por volta das 16h15, a deputada governista Elisa Carrió também pediu que a sessão fosse anulada e teve o seu pedido acatado por Monzó. Enquanto a oposição comemorava o adiamento e denunciava a atuação truculenta do lado de fora, governistas diziam que a oposição tinha agido de forma violenta dentro do plenário.

A reforma previdenciária proposta pelo governo altera o critério de atualização dos benefícios de aposentados, pensionistas, pessoas com deficiência e beneficiários de programas de renda mínima. A aprovação da proposta somente é possível porque uma parte da oposição peronista, composta pelos governadores, negociou com o governo para que uma parcela dos recursos economizados seja destinada às províncias, que atualmente estão fortemente endividadas.

O projeto, que já recebeu meia sanção do Senado, deveria ser votado na Câmara de Deputados e teve sua tramitação adiantada pelo partido do governo para que a votação acontecesse na quinta-feira, data que coincide com o fim da Reunião Ministerial da OMC na cidade.

A resistência dos trabalhadores deve continuar. A CGT (Central Geral dos Trabalhadores) convocou e, nesta sexta-feira (15), milhares de trabalhadores cruzaram os braços em uma greve geral contra a votação da proposta. O governo Macri vem trabalhando para que a pauta seja colocada novamente em votação na semana que vem.