Foto: Leandro Taques

Depois de três horas de ocupação do Palácio Iguaçu, sede do Governo do Paraná em Curitiba, os professores do Estado conseguiram na segunda-feira (18) forçar uma negociação na tentativa que o governador Beto Richa (PSDB) reveja sua intenção de reduzir os salários dos educadores contratados por Processo Seletivo Simplificado (PSS) para o próximo ano.

Na semana passada, a Secretaria de Estado da Educação lançou edital para a contratação de professores PSS, impondo corte de 13% nos salários dos profissionais da educação. Para 2018, o governo pretende pagar para a um docente a remuneração de R$ 1.227,70 para jornadas semanais de 20 horas; uma redução de R$ 188,10 em relação aos salários praticados em 2017.  No caso do professor que leciona 40 horas/aula semanais, a redução será de R$ 376,20.

A redução salarial provocou uma reação da categoria de educadores e colocou sob ameaça o início do ano letivo em 2018. Uma série de mobilizações em todo Estado foram convocados para a segunda-feira (18) pela APP-Sindicato. Em Curitiba, a categoria concentrou-se em frente ao Palácio do Iguaçu, que foi ocupado por volta das 11h. A classe de educadores permaneceu no local por mais de três horas.

Em reação a mobilização dos servidores, o governo enviou ao local o Pelotão de Choque da Polícia Militar. Lá dentro do Palácio, os educadores eram impedidos de ir aos banheiros. Em solidariedade aos colegas, professores e professoras tentaram levar água e comida aos manifestantes, porém o acesso foi negado a mando do governo.

Após muita resistência, uma comissão de negociação com representantes da APP-Sindicato conseguiu reunir-se com o secretário da Casa Civil, Valdir Rossoni e o líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Luiz Romanelli (PSB). A reunião também foi acompanhada pelos deputados Professor Lemos (PT) e Hussein Bakri (PSD) e pelo procurador do Ministério Público do Paraná, Olympio Sotto Mayor.

Falando em nome do governador Beto Richa, Rossoni afirmou que uma negociação poderia ser iniciada desde que o Palácio fosse desocupado pelos professores. A condição foi aceita pelos representantes da comissão e uma reunião de negociação foi agendada para às 17h desta terça-feira (19), com a presença dos secretários do Planejamento, Fazenda, Educação e Administração do Governo Beto Richa.

Ao fim da ocupação, o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, afirmou que a categoria chegou ao impasse com a ausência de debate por parte do governo estadual. “O que tem tido até agora é um monólogo, não uma mesa de negociação. Nós chegamos a esse impasse, de ausência de qualquer debate por parte do governo.  Lá dentro [ocupação] não autorizaram a entrada de água e a utilização dos banheiros. É inadmissível que o governo reduza salários daqueles que já tem os salários mais defasados. Se quiser cortar que seja de quem tem privilégios”, comentou Hermes.

Foto: Leandro Taques

O presidente da APP-Sindicato lembrou que a entidade já apresentou estudos financeiros que demonstram que a medida não causará impacto significativo nos cofres do governo. O estudo foi feito pelo economista Cid Cordeiro, assessor do Fórum das Entidades Sindicais do Paraná (FES). Conforme os dados apresentados, a redução representa apenas 0,16% de economia para o Estado, considerando a previsão de arrecadação de impostos. São R$ 3,8 milhões por mês e R$ 51 milhões no ano. A receita prevista para 2018 ultrapassa R$ 32,6 bilhões.

A APP-Sindicato convocou um novo ato para terça-feira (19), às 16h, em frente à Assembleia Legislativa. A categoria dos educadores do Paraná segue em estado de greve. “Nossa luta prossegue, estamos em estado de greve. Se esse edital não for corrigido e reapresentado pelo governo, o início do ano letivo em 2018 está ameaçado”, disse Hermes logo após a desocupação do Palácio Iguaçu.

No interior do Estado, os núcleos regionais da APP-Sindicato seguem mobilizados. “O ato de hoje [segunda] marca o início da vigilância de nossa categoria, que está em estado de greve, em relação aos ataques que já aconteceram e aos que poderão surgir. Beto Richa mais uma vez nos empurra para a greve”, frisa Cátia Castro, presidenta da APP-Sindicato/Foz do Iguaçu.