Site contribuirá como acervo virtual à causa indígena

Oguata Reguã reúne artigos científicos, documentos públicos, históricos, fotos, vídeos e reportagens sobre a causa indígena no Oeste do Paraná





Oguata Reguã, palavra de origem Guarani que significa “por onde andamos”, expressa a busca de um povo milenar que vive em processo migratório a procura da chamada “terra sem mal”. A palavra dá nome a um novo site criado com o objetivo de democratizar conteúdos e desmistificar informações midiáticas que tem servido para alimentar o discurso de ódio contra os povos indígenas no Oeste do Paraná, palco de conflitos fundiários por abrigar terras tradicionais indígenas.

Lançada em dezembro em evento na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Cascavel, a home page Oguata Reguã estrou no ar na segunda-feira (8/1) e foi criada pelo Observatório de Direitos Humanos, Cidadania e Movimentos Sociais da Unioeste. Desenvolvido pela agência de publicidade Ekamba junto à equipe que faz parte de um projeto de extensão da universidade pública, o site abriga artigos científicos, arquivos públicos, documentos históricos, fotos, vídeos e reportagens sobre a causa indígena.

Outros destaques são um Mapa Digital das Terras Indígenas, organizado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), e a participação dos pesquisadores Clovis Brighenti, Malu Brant e Pablo Velazques, especialistas na temática dos Avá-Guarani. “Nessa caminhada em busca da terra sem mal, os povos Guarani encontram obstáculos do preconceito e discriminação das elites econômicas e setores ruralistas que conseguem reverberar seu ódio por meio de veículos da chamada “grande mídia” ou da imprensa atrelada aos interesses comerciais, especialmente do agronegócio”, explica o professor Paulo Porto, coordenador do site e membro do Observatório.

Mapa Digital das Terras Indígenas

A nova ferramenta disponibilizará conteúdos com fontes confiáveis contribuindo para compreensão da caminhada das comunidades indígenas no Oeste do Paraná. “O grande desafio quando o professor Paulo Porto lançou a ideia seria criar um espaço que pudesse servir de expositor de informações a favor da causa indígena e uma biblioteca virtual para trabalhos acadêmicos voltados ao tema”, explica Talita Ferraz, jornalista responsável pela redação do site e pela curadoria junto ao coordenador.

A profissional destaca o espaço na página destinado as produções acadêmicas, o que dará visibilidade aos estudos e pesquisadores. “Dificilmente achamos de maneira fácil esses materiais “frescos” por aí. A academia tem sido uma grande aliada na desmistificação e na contraposição ao senso comum em relação a temática indígena”, comenta a profissional.

Segundo Talita, a página estará em constante construção e atualização. “Como jornalista, me orgulho de fazer parte deste projeto, que vai servir de aliado na luta contra os discursos midiáticos. Hoje em dia é um grande desafio produzir e veicular uma notícia voltada a temática indígena. Vejo que ainda são poucos os espaços destinados a combater as falsas e tendenciosas informações sobre a situação aqui do Oeste”, completa.

O Oguata Reguã conta com uma equipe de cinco colaboradores. Além da jornalista responsável, o site tem a participação de duas graduandas e dois graduandos, bolsistas de um projeto de extensão da Unioeste. Eles tiveram a oportunidade ao longo de 2017 de estar em contato direto com comunidades Guarani e Kaigang no Paraná por meio do Projeto Memória e Identidade do Povo Kaigang, coordenado por Paulo Porto.

Projeto de extensão Memória e Identidade do Povo Kaigang. Foto: Paulo Porto

“Quando o projeto deu início começaram as leituras e pesquisas. A cultura indígena me encantou ainda mais, pois ela está viva. Não é algo antigo que está apenas nos livros, ela está latente e presente. Há muitas aldeias no Brasil, todas batalhando por seu espaço e reconhecimento”, conta Andréia Lysik, graduanda de Pedagogia.

A estudante diz que sempre teve grande admiração pela cultura indígena desde a escola, porém sempre questionou a história do Brasil da forma que era contata pelos livros didáticos. Ao tomar conhecimento do projeto de extensão, Andréia ficou entusiasmada com a possibilidade de participar. “Quando comecei a estudar a fundo, percebi que os registros eram de acordo com o olhar de uma outra pessoa. Um bom exemplo é minha leitura atual, o relatório de Afonso Botelho. Compreender, aprender, a partir do meu olhar e através de diálogo com o coordenador e os demais bolsistas foi, e está sendo, primordial”.

Francieli Perandré, graduanda de Ciências Sociais, lembra de como o projeto de extensão atua na vida das pessoas ao redor, dos bolsistas, da comunidade atendida, além daquelas pessoas que por meio do projeto passam a conhecer a cultura dos indígenas. “Ver um projeto de extensão sobre cultura e luta indígena tendo maior visibilidade dentro de um espaço público, me deixa muito feliz e na esperança de que nosso trabalho possa contribuir cada vez mais a favor desses povos tão ricos culturalmente”, conclui a estudante.