Operador de Aécio em Furnas abriu offshore no Panamá com a Lava Jato já em andamento

Dimas Toledo foi apontado como o operador no esquema de corrupção que captava recursos para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em Furnas Centrais Elétricas

Senador Aécio Neves. Foto: Lula Marques/AGPT

Dimas Toledo abriu uma offshore no paraíso fiscal do Panamá em pleno curso da Lava Jato.

É o que mostram os documentos da Junta Comercial daquele país obtidos pela Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo. A Opala Work Invest foi aberta em 29 de janeiro de 2015, já no segundo ano da operação. Em uma atualização realizada na instituição panamenha dois meses depois, em 23 de março, Maria Isabel Martins Toledo, mulher de Dimas, aparece também como sócia. A empresa foi encerrada em 30 de novembro de 2016.

Dimas Toledo foi apontado como o operador no esquema de corrupção que captava recursos para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em Furnas Centrais Elétricas, citado em diferentes delações premiadas, como a do ex-senador Delcídio do Amaral, nas delações dos executivos da Odebrecht e na de Fernando Moura, ligado a Petrobras.

Dimas Toledo. Foto: Arquivo/Agência Câmara

De acordo com o relatado por Henrique Valadares, ex-diretor da Odebrecht, Dimas participou, em 2008, das negociações para o pagamento de R$ 50 milhões no exterior, para que Aécio defendesse os interesses da Odebrecht nas usinas de Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira, em Porto Velho (RO).

Odebrecht tratou de propina com Aécio dentro do Palácio das Mangabeiras

Henrique Valadares chegou a contar que foi recebido em fevereiro daquele ano juntamente com o ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas Gerais, (Aécio Neves na ocasião). O assunto era o leilão que envolvia as duas usinas.

O delator contou que Aécio teria dito que Valadares seria procurado por Dimas Toledo para tratarem do pagamento. E depois da reunião, Marcelo Odebrecht teria dito a Valadares que acertou o pagamento de R$ 50 milhões para o tucano, sendo R$ 30 milhões da Odebrecht e outros R$ 20 milhões dados pela Andrade Gutierrez. De acordo com a delação, Dimas entregou a Valadares um papel com o nome de Alexandre Accioly, amigo de Aécio Neves, para que este recebesse os depósitos em uma conta de Cingapura. Accioly nega o fato.

A partir daí, os pagamentos para Aécio (codinome Mineirinho na relação de propinas) por parte das empreiteiras foi sempre via Dimas.

Há ainda outro relevante fato ligando Aécio e Dimas Toledo: no âmbito da “Operação Cobra”, 42ª fase da Lava Jato, quando foi preso o ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, entre as apreensões estava um papel timbrado do banco com escritos de Bendine, onde o nome de Dimas Toledo aparece como “caixa de AN”, interpretado como as iniciais do senador mineiro.

No último dia 8 de junho, Dimas Toledo foi alvo de condução coercitiva, parte da “Operação Barão Gatuno”, que investigou o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em Furnas.

Dimas Fabiano Toledo Júnior, filho do ex-diretor de Furnas apontado como operador de Aécio Neves, é deputado federal pelo PP-MG e também está citado na Lava Jato por ter recebido dinheiro de caixa 2 da Odebrecht para campanha.

Em março deste ano, o delator Fernando Moura e Dimas Toledo estiveram frente a frente em acareação. Após o choque de versões, o então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao ministro do Supremo Gilmar Mendes a prorrogação do inquérito por mais 60 dias, ao afirmar:

“Na presente hipótese, os elementos informativos já reunidos nos autos apontam para a verossimilhança dos fatos trazidos pelos colaboradores e denotam a necessidade de aprofundamento das investigações, notadamente quanto o envolvimento de Dimas Fabiano Toledo no evento criminoso e a sua relação com o senador Aécio Neves…Conquanto o diretor tenha negado participação em qualquer esquema, as declarações de Fernando Antônio Guimarães Horneaux de Moura se coadunam com os elementos trazidos pelos colaborador”.

Ter uma offshore não é ilegal pela legislação brasileira, desde que declarada à Receita Federal, assim como seus bens e valores tributados. A Receita não responde a confirmações sobre uma empresa estar ou não declarada. No entanto, alguns paraísos fiscais sedes dessas offshores, como o Panamá, por algumas características tais como regras bastante rígidas de sigilo bancário e baixo controle fiscal, acabam atraindo dinheiro associado a várias práticas criminosas, entre elas corrupção política e tráfico de drogas. Repare-se que a empresa de Dimas Toledo, embora aberta em plena Lava Jato, foi constituída naquele país em 29 de janeiro de 2015, portanto antes da eclosão dos Panama Papers, investigação de consórcio jornalístico investigativo que, em 3 de abril de 2016 tornou público onze milhões de documentos relacionados a empresas abertas no paraíso fiscal. Cinco meses depois dos Panama Papers, no dia 30 de novembro de 2016, a empresa é fechada.
A reportagem tentou contato com Dimas Toledo para saber se a empresa está declarada mas não obteve resposta. (Ver “Outro Lado” abaixo).

Outro lado

A reportagem tentou falar com Dimas Toledo sobre a Opala Work Invest, aberta no Panamá já com a Lava Jato em curso através da defesa do ex-diretor de Furnas, sem resposta. Em razão da ausência de resposta, enviou também as questões para o deputado federal Dimas Fabiano Toledo Júnior (PP-MG), com o pedido de que enviasse as questões ao pai. Também sem resposta.