Trabalhadores vinculados a diversas categorias, estudantes e militantes de diversos movimentos populares do campo e da cidade estão em Porto Alegre para participar das mobilizações que antecedem o julgamento em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no TRF4. A maior parte deles está alojada no acampamento montado no espaço do auditório Pôr do Sol, às margens do rio Guaíba.
Na terça-feira (23/01), diversas caravanas oriundas de várias regiões chegaram ao local. Após horas de viagens, algumas com intempéries no caminho, entre elas o registro de revistas abusivas de autoridades policiais, os populares iniciaram as montagens de suas barracas e das cozinhas comunitárias. Por lá permanecerão até quarta-feira (24/01), dia do julgamento do ex-presidente.
No entendimento das dezenas de milhares de manifestantes que estão na capital gaúcha, o processo é injusto e tem caráter político de impedir a candidatura do petista à presidência em outubro deste ano. “Estão julgando o ex-presidente Lula não como um indivíduo, mas sim como um agente político. Um jogo de estratégia que tem como pano de fundo o processo eleitoral”, comenta o estudante Paulo Ricardo, de 17 anos.
Vindo de uma caravana de Cascavel, no Oeste do Paraná, o secundarista afirma que o país vive um estado de exceção. O cansaço de 16 horas de viagem não é obstáculo. “Estamos aqui lutando por democracia e justiça. Isso vale tudo”, comenta. Neste momento de crise política na qual o atual governo é carregado de denúncias de corrupção, Paulo Ricardo destaca a atipicidade da cidade em que mora. “Viemos de uma cidade conservadora, onde o governo Temer tem a maior aprovação, com 17%”, destacou.
Para os manifestantes, o caráter político do processo da Lava Jato coloca o Judiciário em cheque. “Estamos mais convictos do que nunca, que quem será julgado amanhã [quarta-feira] não será o presidente Lula, mas sim o próprio Judiciário. A segunda instância que vai dizer se ela vai seguir a Constituição e a legalidade ou se ela vai servir como instrumento de luta política”, aponta Cedenir Oliveira, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul.
Na capital gaúcha desde a semana passada, Caju, dirigente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na Bahia, lembra que o momento é histórico da defesa da democracia e pelo direito de Lula ser candidato. Lucas Duarte, da União dos Estudantes Secundaristas (UBES) em Santa Catarina, acrescenta que “a candidatura de Lula é fundamental para conter o avanço dessa onda fascista no Brasil”.
A sem terra Cristina de Santos, do município da Araquari (SC), viajou quase nove horas para viver o que considera um momento único na história do país. “É um momento muito importante. Espero que o Lula seja absolvido. Ele não é um ladrão, ladrões são os que hoje estão no governo”, afirmou Cristina, ressaltando que espera ver o petista novamente presidente da república. “Queremos de volta aquele tempo que não tinha desemprego, que se preocupavam com o povo pobre e trabalhador”.
Apesar dos prognósticos apontarem para uma possível condenação em segunda instância do ex-presidente, os trabalhadores acampados no auditório Pôr do Sol demonstram confiança na absolvição. “Esperamos a vitória, pois queremos um Brasil melhor para todos. E o Lula é esse caminho”, afirma o agricultor Miguel Dezembrine, de São Domingos, oeste de Santa Catarina. “O Brasil do jeito que está não pode ficar, estamos indo para o fundo do poço”, completa o camponês que viajou oito horas para acompanhar o julgamento do ex-presidente.