Foto: Leandro Taques

Entre os dias 8 e 12 de fevereiro, Curitiba receberá ‘foliões’ de vários países para pular o ‘carnaval’ do maior festival da América Latina do gênero psychobilly, a cena musical mais forte e organizada da capital paranaense, caracterizada pela união do punk, rock and roll e rockabilly e pelas referências aos filmes de terror.

O Psycho Carnival chega a sua 19ª edição com 26 bandas de sete países diferentes em cinco dias de apresentações no palco do Jokers. Uma das figuras mais importantes desta cena é o músico e produtor cultural Vlad Urban, vocalista e guitarrista das bandas Os Catalépticos e Sick Sick Sinners. Ele recebeu a reportagem do Porém.net para um papo sobre o festival, carnaval e, obviamente, sobre o atual momento do país, afinal, música e política sempre fizeram parte do cotidiano da família Urban.

Filho do fotógrafo João Urban e sobrinho de Teresa Urban (1946-2013), jornalista e ambientalista que participou de grupos de resistência à ditadura militar, Vlad tem a militância no sangue. Então, antes de falarmos da lineup do festival, iniciamos nossa conversa com seu novo projeto: a banda Partigianos, nome em menção ao termo ‘partisan’ que surgiu na Guerra Civil Espanhola nos anos de 1930. Na Segunda Guerra Mundial, os partisans tiveram participação fundamental contra a ocupação alemã nos países da Europa. Já na Itália, os ‘partigianos’ lutaram contra o fascismo de Mussolini.

A ideia do grupo surgiu de Vlad e sua irmã Dora Urban, que é musicista e pianista. Das pesquisas da dupla saiu todo o repertório, que hoje tem nove músicas. A banda faz um resgate de canções de resistência e de cunho antifascista cantadas por exércitos rebeldes e camponeses. “É uma releitura de versões de hinos revolucionários, basicamente da Guerra Civil Espanhola ou da resistência contra o fascismo na Itália numa pegada polska punk. Uma tradução para um jeito dançante, para cima”, explica Vlad, adiantando que o grupo está preparando versões de canções de resistência às ditaduras na América do Sul.

O atual repertório já conta com as tradicionais Bella Ciao, canção popular e música símbolo da esquerda italiana; as espanholas A Las Barricadas, Em la Plaza de mi Pueblo e Si me Quieres Escribir; a mexicana La Adelita, da revolução camponesa liderada por Zapata e Pancho Villa; e Fischia Il Vento; adaptação da música folclórica russa Katyusha feita pelo médico comunista, Felice Cascione, um partigiano italiano que lutou na resistência contra fascismo de Mussolini.

Também fazem parte da Partigianos; Andre Santos (bateria), David Ernst (guitarra), Gustavo Toscan (acordeon), Pepeu Flukeman (baixo) e Tom Fortes (vocais). No início de fevereiro, a banda lançou seu primeiro vídeo oficial com a versão de Fischia Il Vento.

O rock e o fascismo

O ideário político dos Partigianos, inevitavelmente, levou a conversa com Vlad para atual momento político do país e a ascensão da extrema direita e de figuras caricatas como o político Jair Bolsonaro. Para o músico, esse fenômeno é reflexo de um acúmulo histórico que vem desde o período da ditadura militar até a influência dos meios de comunicação de massa nas décadas de 1980 e 1990.

“O que passava na TV nos anos 80 e 90? Alborguetti, Aqui Agora, essas paradas. O que eles falam: tem que matar mesmo, é ladrão, é vagabundo. Não tem diálogo. Isso foi ensinado na TV aberta. Alborghetti era ‘legal’, era ‘bacana’, ‘engraçado’. O cara falava “vai sentar no colo do urubu” e a molecada achava bacana”, recorda. Para Vlad, a mídia ensinava abertamente a população a pensar de maneira fascista. “E esse era o único acesso à informação para muitos”, acrescenta.

Essa massificação e deturpação dos meios de comunicação, segundo o músico,  faz com que algumas vertentes do rock flertem com o conservadorismo. “Tem gente repetindo o padrão dos seus opressores, no metal, no punk. Na Europa um punk não vai apoiar um conservador. Claro que não é todo mundo, veja o Violator [banda de thrash metal de Brasília conhecida pelas posições contrárias a Bolsonaro], mas aqui estamos na periferia do mundo, não estamos vivendo as mesmas coisas que o resto do mundo. As coisas vem deturpada pela mídia, pela exposição na TV. O próprio movimento skinhead veio deturpado para o Brasil”, comenta.

Foto: Leandro Taques

A volta dos Catalépticos

Deixamos a conversa sobre os “zumbis” que querem reviver o fascismo de outrora e voltamos a falar sobre os “mortos vivos” que retomaram o projeto mais bem sucedido da cena do psychobilly nacional: Os Catalépticos.

Vlad, junto com o baixista Gustavo Rodrigues (Gustavão) e o baterista Mutant Cox (Coxinha), voltaram a se apresentar com a lendária banda depois de um hiato de onze anos. O trio curitibano que impulsionou a cena irá se apresentar no dia 11 no palco do Jokers. Com certeza um dos shows mais aguardados no festival.

O retorno da sepultura aconteceu em novembro de 2017, no próprio Jokers. Depois foram três apresentações na Califórnia (EUA). “Tudo começou com as fotos do Psycho Carnival de 2017, quando a galera viu que estávamos assinando o vinil do Little Bits of Insanity [lançado originalmente em 1996]. Por estar assinando os vinis, a galera da Califórnia viu e pediu para fazermos uma volta. Porque não?”, comenta Vlad.

Segundo o vocalista, a ideia original era fazer um único show, mas o trio já pensa em lançar um material novo. “Tudo dentro do seu tempo”, diz Vlad.

Foto: Leandro Taques

“Carnaval alternativo”

Junto ao Psycho Carnival, outros eventos devem criar a atmosfera do “carnaval alternativo” dos curitibanos, especialmente o tradicional Zombie Walk, marcha que reúne milhares de amantes do gênero de horror. A caminhada dos mortos-vivos começou em 2006 e se tornou tradição na cidade. Em 2017, um desentendimento entre os organizadores e a Prefeitura de Curitiba quase cancelou o evento. Para 2018 são esperados cerca de 20 mil pessoas na caminhada, que acontecerá no domingo (11).

“O carnaval do curitibano sempre foi no litoral, mas hoje o litoral já não comporta tanta estrutura. Acho que a grande sacada é espontaneidade e simplicidade do Zombie Walk. Eles estão ali para mostrar suas fantasias. Um dia do ano em que você se transforma, sai de zumbi, de vampiro, com a família, com o cachorro. A grande referência de fantasia é o filme de terror”, comenta Vlad, ao eleger a caminhada zumbi como o grande carnaval de Curitiba.

Foto: Leandro Taques

SERVIÇO

PSYCHO CARNIVAL 2018
Evento no facebook: https://www.facebook.com/events/1883575781888853
Data: de 8 a 12 de fevereiro de 2018
Local: Jokers Pub
Endereço: Rua São Francisco, 164 – Centro, Curitiba
Ingressos: sympla.com.br

PROGRAMAÇÃO

QUINTA, 08/02 (Pré-Esquenta)

Luiz Fireball & The Good Lookin’ Boys (CWB)
Barbatanas (CWB)

SEXTA, 09/02

Sick Sick Sinners (CWB)
Flicts (SP)
Crazy Horses (Londrina)
Nausea Bomb (França)
O Lendário Chucrobilly Man (CWB)
Skullbillies (CWB)

SÁBADO, 10/02

Frenetic Trio (CWB)
Klax (USA)
Salidos de La Cripta (Colômbia)
13Bats (Espanha)
Mongo (CWB)
Footstep Surf Combo (Campinas)

DOMINGO, 11/02

Os Catalépticos (CWB)
Brown Vampire Catz (Londrina)
Cursed Bastards (USA)
Kingargoolas (Guarapuava)
Psychopath Billy (Colômbia)

SEGUNDA, 11/02

Hillbilly Rawhide (CWB)
The Mullet Monster Mafia (Piracicaba)
Wild Rooster (Suécia)
Tampa do Caixão (Joinville)
Luisonz (Paraguai)
Voodoo Brothers (SP)