Underground ilustrado: Um olhar acerca da cena alternativa curitibana

Entre notas e traços e com a filosofia do "faça você mesmo", artistas apresentam o cenário underground da capital paranaense





Foto: Júlio Carignano

A atmosfera da cena underground de Curitiba pode ser conferida na Gibiteca de Curitiba. Aberta no dia 9 de fevereiro, com apresentações das bandas Rabo de Galo e Repelentes, a exposição “Underground ilustrado: a arte visual da cena musical curitibana” foi prorrogada até 30 de abril. Ela reúne uma mostra com capas de álbuns, pinturas, cartazes de shows, ilustrações, fanzines, histórias em quadrinhos e esculturas.

Em comum entre os trabalhos o fato de serem feitos por ilustradores que também compõe bandas da cena alternativa na capital, em especial do punk, do metal, do psychobilly e do rockabilly. Entre as notas e os traços no papel, a maior parte desta turma iniciou nas artes visuais sob o espírito do “faça você mesmo” (Do it yourself), princípio de autonomia do movimento punk.

“A ideia da mostra é misturar esses gêneros, integrar esses trabalhos e fortalecer ainda mais essa grande família do underground. Além de serem músicos, terem suas bandas, eles se aventuram também na arte visual”, explica Daniel Gonçalves, ilustrador, músico e um dos curadores da exposição.

Guitarrista e vocalista da banda Repelentes, Daniel destaca que outra motivação é apresentar um cenário ainda desconhecido de muitos jovens e adolescentes que costumam frequentar a Gibiteca, especialmente nesta ‘era digital’. “Isso é uma vitrine para o pessoal que não conhece a cena das bandas de Curitiba, que só escutam música pela internet e que não sabem que tem bandas na cidade que ensaiam toda semana, que fazem músicas autorais, que tocam às vezes de graça. Uma oportunidade para essa galera sair de casa, da internet, saber que existe uma vida cultural ativa na cidade”, destaca.

Christiano, ilustrador e baterista da Rabo de Galo e Daniel Gonçalves, ilustrador, músico e um dos curadores da exposição. Foto: Júlio Carignano

Sem divisão

Christiano, ilustrador e baterista da Rabo de Galo, explica que a exposição é uma sequência de outro projeto formado pelo mesmo time de artistas: o “Curitiba em 3 acordes”, uma coletânea lançada em 2015 em homenagem a antigas bandas do underground curitibano. Na época, 24 bandas pós anos 2000 regravaram músicas de 24 bandas que movimentaram a cena nos anos de 1990. “Essa exposição é um filhote do que a gente fez com a ‘Curitiba 3 acordes’. Desde lá sempre pensamos em reunir a galera para outro projeto”, conta o curador da “Underground ilustrado”.

Para Chris, é preciso fortalecer a união na cena underground. “Hoje em Curitiba estamos vivendo um momento idiota de competição dentro da cena, do lance de divisão. Aqui não tem nenhum melhor que o outro, é tudo uma galera que já se ferra suficiente com suas bandas, mas que ainda faz outro tipo de arte”, diz o baterista. “Isso não cabe mais nos dias atuais, se existiram tretas entre gangues e tribos, hoje não cabe mais”, completa Daniel Gonçalves.

Com desenhos de traços escatológicos que já ilustraram publicações das revistas Mad e Prego, Chico Felix, das bandas Evil Idols e Vida Ruim, também expõem seus trabalhos na mostra. Ele fala do espírito do “faça você mesmo” do underground. “Isso é o underground, a galera que toca nas bandas tem que fazer a divulgação, a arte dos discos, dos cartazes”, comenta.

Chico Felix, das bandas Evil Idols e Vida Ruim, também expõem seus trabalhos na mostra. Foto: Júlio Carignano

Independente do gênero de cada artista e banda, Chico aponta que tudo é uma questão de necessidade. “Todo mundo começou a fazer por necessidade e foi evoluindo para um trabalho artístico autoral. Eu era aquele amigo que sabia desenhar e os caras falavam: ‘faz a nossa capa ai’. Independente do estilo é isso, sujar a mão para fazer a parada”, acrescenta.

Homenagem a Magoo

A mostra ainda homenageia o artista Magoo, morto em 2015, aos 44 anos. Alessandro Rüppel Silveira, conhecido como Magoo, começou a carreira aos 16 anos, em 1987 venceu o prêmio de artes plásticas “Primeira Visão”, quando ainda era estudante do Colégio Estadual do Paraná. Ele foi responsável também por capas de álbuns produzidos pelo projeto “A Grande Garagem que Grava” e inúmeros materiais para a cena musical da cidade.

O ilustrador Flúvio Pacheco, coordenador da Gibiteca de Curitiba, ressalta que o espaço busca a diversidade em suas atividades. “Por aqui já tivemos mostras de artistas ligados a ilustração tradicional, ao grafite, a moda, a arquitetura, aos Urban Sketchers, aos quadrinhos, à animação, mas ainda não tinha rolado uma exposição específica com essa galera do underground, da música”, comenta.

Além de Daniel Gonçalves, Christiano C. Neto e Chico Felix, a mostra reúne trabalhos de Koti (Chucrobillyman), Lemer Luiz (Deathsmoke), Ulisses Rodrigues (Necrotério), Maxweel Alves (Cromathia), Jura (Zabilly), G-lerm (Mongo), Rafael Silveira (Transtornados do Ritmo Antigo), Wilson (PoisonBeer), Thiago (Crazy Bastards), Gusso (Pantanum), Eli (Vídia), Fernando Nishijima (WiFi Kills), Mario Alencar (A Mão Invisível), Romvlvs (Marte) e Leandro Almeida (Menos Arte).

Serviço

Exposição “Underground Ilustrado: a arte visual da cena musical curitibana”.

De 9 de fevereiro a 30 de abril de 2018

Local: Gibiteca de Curitiba | Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533, Centro.

Entrada franca