Greve no O Diário: Um triste espetáculo do caráter predador da elite empresarial





Foto: Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná

José Maschio*

O Brasil não é para amadores. Especialmente quando se trata da elite nacional. Uma elite feudal, predadora, insensível socialmente e que conjuga apenas um verbo: o lucrar.

Os jornalistas de O Diário, principal jornal de Maringá (norte do PR) estão em greve desde sete de fevereiro último. Já é a maior greve de jornalistas na história brasileira. E não é uma greve tradicional, daqueles por melhores salários e condições de trabalho. É uma greve de pedido de socorro, pela sobrevivência.

Depois de quase dois anos a conviver com atrasos sistemáticos de salários, atraso no recolhimento do FGTS, desde maio de 2016, ou de pagamento de férias, os jornalistas deram um basta.

Entraram em greve para receber salários atrasados desde novembro de 2017, de férias não pagas e do décimo terceiro salário de 2017. Aliás, a greve só foi decretada depois de inúmeras e exaustivas tentativas de o sindicato da categoria tentar uma negociação séria com a direção do jornal, isso desde novembro do ano passado.

Com os jornalistas em greve, a reação dos donos do jornal foi de prepotência e arrogância. Prepotência ao não estabelecer uma canal de negociação sério. Apenas baseado na concepção dos senhores de escravos. Voltem ao trabalho e vamos discutir os atrasados.

Arrogância é que, paralelo a isso, o dono do jornal, Franklin Silva e sua filha, Lucienne Vieira, por acaso colunista social no jornal, exibiam nas redes sociais ostentações de riqueza. Fotos em praias paradisíacas e voos fretados de helicópteros. Em um acinte aos grevistas.

Mas não bastou o acinte. Ele, Frank Silva, queria o escárnio. E proibiu, em fevereiro, que cestas básicas arrecadadas pelos grevistas, fossem deixadas na guarita de entrada do prédio do jornal. As cestas eram para minorar a situação de penúria de trabalhadores de outros setores do jornal, também em receber salários.

Frank Silva, com sua mentalidade escravocrata, reagiu intempestivamente quando viu trabalhadores a protestar em frente à Casa Grande (o homem mora no edifício mais “colunável” de Maringá). E notificou o Sindicato dos Jornalistas por “cobrança vexatória”. Sentiu-se ofendido em sua lógica “empreendedora”. Mas não considera ele, a vexatória situação de trabalhadores sem salários desde novembro passado.

No dia 15 de março, em audiência de conciliação convocada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) Frank Silva nem mesmo se dignou a comparecer. Através de seus advogados (estarão eles a receber em dia?) exigiu o retorno dos grevistas ao trabalho.

Tudo para garantir que nesta terça-feira, dia 20 de março, em assembleia de credores no processo de recuperação judicial que o jornal sofre, pudesse mostrar que tudo estava solucionado. Sobre salários, FGTS e férias atrasadas, nenhuma oferta de solução. Apenas escárnio e desconsideração aos jornalistas, em um verdadeiro atentado à dignidade da pessoa humana.

O mais grave em todo esse processo é que Franklin Silva não é um caso à parte. Ele é uma síntese de como pensam os “empreendedores” tupiniquins. Todos eles ainda apegados à lógica feudal de que trabalhadores são apenas servos, logo descartáveis.

* José Maschio é repórter e diretor do sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná