Jornalistas da EBC protestam contra censura do governo Temer

Trabalhadores receberam orientação de restrição à cobertura do assassinato de Marielle Franco





Jornalistas da Agência Brasil protestaram na sucursal de Brasília. Foto: Sindicato dos Jornalistas do DF

Nesta segunda-feira (19), um gerente-executivo da Agência Brasil, site da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ordenou por e-mail que editores e jornalistas da empresa pública deixem de fazer a cobertura das manifestações referentes aos assassinatos da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes, sob alegação de o tema ser “repetitivo” e “cansativo”.

O comunicado ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do governo Michel Temer orienta os trabalhadores a restringirem a cobertura ao que dizem as autoridades. “Precisamos reduzir matérias da morte da vereadora Marielle Franco. Essas homenagens do PSOL são para tirar proveito do momento. Ou outras repercussões do gênero. Devemos nos concentrar nas investigações e naquilo que dizem as autoridades”, diz um dos comunicados enviado pelos chefes aos editores.

Em reação a “orientação” da direção da empresa, jornalistas da redação da Agência Brasil em Brasília resolveram fazer um protesto nesta terça-feira (20) contra a restrição da cobertura e levaram uma faixa com os dizeres: “Não vão nos calar! Marielle presente”.

O Sindicatos dos Jornalistas do Distrito Federal e de São Paulo, o Sindicato dos Radialistas do Distrito Federal, representantes dos Trabalhadores no Conselho de Administração da EBC e a comissão de empregados da EBC no DF, SP e RJ manifestaram-se sobre a censura por meio de uma nota pública com o título: o jornalismo sequestrado da EBC.

Na nota, as entidades destacam que um dos atuais chefes Agência Brasil foi assessor, por 6 anos, do atual ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e do Ministério da Defesa. Segundo a nota, “as ordens dele, nas últimas semanas, são de um relações públicas, exigindo a cobertura de todas as ações da intervenção, incluindo pautas menos relevantes, como a distribuição de flores pelos militares, na Vila Kennedy, e da revista em infantil, o Recrutinha, em São Gonçalo”.

Desta forma, segue a nota, “a empresa tem sobrecarregado a pequena equipe da sucursal, impedida de fazer a cobertura aprofundada do tema, mostrando os problemas históricos na segurança pública do Estado”.

Na opinião dos sindicatos e comissão, o governo federal tem feito um “jogo duplo grave contra a democracia”, ao dizer que está auxiliando na investigação do caso e ao mesmo tempo pedindo que se diminua a cobertura das manifestações pela EBC.

De acordo com os sindicatos, as intervenções do governo na linha editorial da empresa pública e os vetos têm sido uma constante desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016.