Sem Terra é homenageada com Medalha Chico Mendes

Fabiana Braga, 23 anos, foi presa em 2016 no Paraná por ter participado de uma manifestação contra a Araupel





Fabiana Braga, moradora do Acampamento Dom Tomás Balduíno. Foto: Claudelei Lima

A sem terra Fabiana Braga, presa em 2016 no Paraná por ter participado de uma manifestação organizada por mulheres da Via Campesina contra a Araupel, empresa madeireira com sede em Quedas do Iguaçu, foi homenageada nesta segunda-feira (2) com a medalha Chico Mendes de Resistência, entregue pelo Grupo Tortura Nunca Mais, no Rio de Janeiro.

Fabiana Braga é moradora do Acampamento Dom Tomás Balduíno, no interior de Quedas do Iguaçu. Ela foi presa no dia 4 de novembro de 2016 na “operação Castra”, da Polícia Civil do Paraná, junto com outros seis integrantes do MST sob acusação de pertencer a uma “organização criminosa”.

Ela permaneceu seis meses presa preventivamente sem que houvesse sido coletadas provas. Foi solta em maio de 2017, junto com os outros seis sem terra, após a Justiça determinar o cumprimento de medidas cautelares, entre elas o comparecimento mensal ao juízo.

A prisão de Fabiana, então com 22 anos, gerou comoção popular. Deputadas federais e senadoras, como Gleisi Hoffmann, Luiza Erundina, Jandira Feghali, Lídice da Mata prestaram solidariedade à jovem nas redes sociais.

Na mesma operação da Polícia Civil aconteceu a invasão ilegal da Escola Nacional Florestán Fernandes, em Guararema, interior de São Paulo, no momento em que o local recebia atividades culturais e de formação.

Fabiana e Carmem Diniz, militante do MST. Foto: Claudelei Lima

Reforma agrária

A região de Quedas do Iguaçu, onde aconteceu as prisões da Operação Castra, é marcada por conflitos por terra. O MST reivindica a destinação de terras griladas pela madeireira Araupel para a reforma agrária. Cerca de 3 mil famílias ocupam parte das terras das Fazendas Pinhal Ralo e Rio das Cobras em quatro acampamentos: Dom Tomás Balduíno, Herdeiros da Terra de 1º de maio, Vilmar Bordim e Leonir Orback.

Em 2015, a Justiça Federal sentenciou que os títulos da Fazenda Rio das Cobras são nulos e pertencem à União. A região onde mora Fabiana e os demais integrantes do MST que foram presos também tem já foi palco de violência. Em abril de 2016, dois integrantes do MST foram assassinados. Até hoje o crime ainda não foi elucidado.

Militantes do MST na cerimônia de premiação no Rio de Janeiro. Foto: Ascom MST

Homenagens

Há 30 anos o grupo faz a homenagem sempre no dia 1º de abril, para marcar o golpe civil militar em 1964, mas que como este ano caiu no domingo, foi marcada para segunda-feira. Ao todo, 12 medalhas foram distribuídas, entre pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou internacionais. A iniciativa é rememorar mortos e desaparecidos na ditadura e homenagear instituições e pessoas que atuam na defesa dos direitos humanos.

O nome da medalha também é uma homenagem a um lutador, o seringueiro e ambientalista Chico Mendes morto no ano da criação do prêmio. Cecília Coimbra, uma das fundadora e integrante da direção do Grupo, explica que “a medalha é mais um instrumento político de afirmação das lutas de resistência contra toda forma de opressão e de valorização da cultura e da vida destas mesmas pessoas, independente das disputas partidárias e eleitorais”.

Além de Fabiana Braga, foram homenageados: Rute Fiuza, mãe de um jovem de 16 anos, negro, que desapareceu em 2014, em frente de casa, em Salvador, e desde então ela cobra respostas das autoridades; Mãe Meninazinha de Oxum, do Ilê Omolu Oxum, símbolo da luta contra intolerância religiosa; Ana Maria Tellechea, promotora uruguaia responsável por investigações contra o assassinato de militantes políticos pela Força Áerea daquele país; a líder comunitária indígena Milagro Sala, presa política na Argentina; além de Ilma e Rômulo Noronha, casal de militantes da Ação Libertadora Nacional e ex-presos políticos.

O líder sindical Comandante Paulo Mello Bastos, que pilotou o avião trazendo Jango ao Brasil, após a renúncia de Jânio Quadros, também foi homenageado, assim como os militantes Jaime Petiti, desaparecido na Guerrilha do Araguaia e José Barreto (Zequinha), assassinado por militares, junto com o capitão Carlos Lamarca, no interior da Bahia. Cosme Alves Netto, ex-preso político, responsável por transformar a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio em ponto de resistência política, na década de 1960, também estava na lista. Ele foi ainda programador do antigo Cinema Paissandu, ponto de encontro da juventude à época.

Entre as instituições, também receberam a medalha a Ocupação Manuel Congo, marco na luta por moradia, e a Casa Nem, que recebe transexuais em situação de rua.


* Com informações do Grupo Tortura Nunca Mais e da Agência Brasil