Indígenas denunciam novo atentado no Oeste do Paraná

Hostilidade e ameaças tornaram-se rotina para famílias Avá-Guarani no Oeste do Paraná





Foto: Paulo Porto

A morosidade no processo de demarcações de terras, a paralisação de estudos e o descumprimento de determinações judiciais têm aumentado o clima de hostilidade contra povos indígenas no Oeste do Paraná. Episódios de ameaças e violência tornaram-se rotina das famílias Avá-Guarani que por lá vivem e inclusive já foram informados em relatório lançado no ano passado em Guaíra e que já é de conhecimento das autoridades.

A violência mais recente aconteceu na última sexta-feira (20), no município de Santa Helena, e pode ser caracterizado como uma ameaça seguida de tentativa de homicídio. O fato aconteceu no dia seguinte a passagem do Dia do Índio e, de acordo com um cacique de uma área retomada pelos Guarani, o atentado partiu de um suposto policial.

Segundo denúncia do indígena Fernando Lopez, cacique do Tekoha Pyau, seu filho Ismael Lopez e outro adolescente indígena estavam pescando nas margens do Lago de Itaipu quando dois homens em um barco particular chegaram e passaram a ameaçar a dupla. “Eles chegaram de barco, um deles se apresentou como ‘Juliano’ e disse que era policial. Ele falou que não existia índios naquele lugar e que tínhamos que sair dali”, conta.

Lopez ainda relata que o suposto policial afirmou que, caso os Guarani permanecessem na área, “um inocente poderia morrer a qualquer momento”. Ainda segundo o relato, o homem culpou os indígenas pelo fechamento por parte da Polícia Ambiental do Paraná de uma estrada destinada à pesca. Após as ameaças, o homem teria disparado dois tiros na direção dos indígenas. Ninguém ficou ferido.

O cacique denuncia que o racismo e a hostilidade contra os indígenas têm aumentado na região, que é palco de uma série de conflitos territoriais. “Estamos passando por muitas ameaças, não sei se realmente é a polícia ou se eram pescadores se passando por policiais”, comenta.

Temendo pela vida de seus familiares, o cacique escreveu uma carta que pretende levar ao Ministério Público Federal para que providências sejam tomadas. “Nós temos medo porque eles têm armas e não estamos aqui para brigar. Só queremos nosso direitos”, escreve Lopez no documento.

A regional Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifestou-se sobre a tentativa de homicídio e cobrou uma investigação das autoridades sobre o caso. A entidade considerou as ameaças “absurdas e uma amostra da intolerância com famílias que estão fazendo a retomada de parte de áreas que eram antigos territórios tradicionais”. O Cimi também cobra uma posição da Itaipu em relação ao atentado sofrido pelos Avá-Guarani em Santa Helena.

Dívida de Itaipu

A área ocupada por Fernando Lopez e outras 13 famílias Avá-Guarani fica localizada em uma faixa de proteção da Itaipu, próxima ao porto internacional de Santa Helena. Os indígenas migraram de Terra Roxa à Guaíra em razão da situação envolvendo áreas em processo de retomada.

Em recente entrevista ao Porém, o indigenista e historiador Paulo Porto Borges explicou que parte do território tradicional indígena na região foi alagado pela subida das águas em Itaipu. “Estudos da própria Itaipu apontam uma dívida de 10 mil hectares, ainda não saudada, junto aos Guarani. Como as terras originais destes povos estão embaixo da água, eles estão em torno da represa, ocupando áreas públicas para retomar parte do seu antigo território”, explicou Porto, que também é vereador em Cascavel.

Reuniões têm sido realizadas com a participação de lideranças indígenas, Ministério Público Federal e Itaipu na tentativa de agilizar os processos legais de demarcações e estudos. Porém, tem se verificado a ausência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) nos últimos encontros. A próxima reunião está agendada para esta quarta-feira (25) na terra indígena Itamarã, no município de Diamante do Oeste.