Viscôn…




FonteEugênio Vinci de Moraes

Curitiba esconde-se atrás da neblina. A névoa gelada expele os poucos pedestres que circulam pela calçada da Marechal Floriano. Caixas de som da farmácia Unipreço tentam a todo custo capitalizar a manhã. Conclamam as raras almas passantes a comprarem uma droga qualquer. Pesadíssima, suponho.

Entre esses espíritos estou eu, descendo a Marechal. Rumo ao Mercado Municipal, viro à esquerda na Visconde de Guarapuava. Sei, treze anos morando na ex-Nossa Senhora dos Pinhais, que após a neblina vem o sol. Olho pro alto mas vejo é o letreiro do Hotel Viscond… Ou Visconde? Seria a bruma? A droga da Unipreço?

Nas imagens do Google nesta página, você vê, cara leitora, caro leitor, duas versões da fachada do hotel. Em ambas a variante impávida – ViscondeViscond. Gastou-se com a placa nova, manteve-se o velho toldo.

A ausência do e deve-se a uma tentativa de enobrecer o nome, arrancando a brasileiríssima vogal final? Algo pronunciado assim, meio à francesa: Viscôn…Ou o letrista fora abduzido pelo canto da drogaria e viajou no tamanho das letras?

Como saber?

Só sei que é fenômeno afim daquele descrito por João do Rio na crônica “Tabuletas”, do Alma encantadora das ruas: “Restaurant dos Dois lrmãos Unidos Por… Unidos por… Pelo quê?” Faltou parede, como escreve o incomparável Paulo João do Rio Barreto para a palavra portugueses. Menos verborrágico que o restaurante luso-carioca, o hotel ítalo-polaco-ucraniano-germano-tupi-guarani-curitibano foi modesto. Um século depois, limou apenas o e.

Se a placa foi renovada, por que o toldo disléxico não? Seria uma fortuna trocá-lo? S ria um toqu a mais do stab l cim nto? Esse cronista poderia ter resolvido o mistério indo até a recepção e fazer as perguntas certas. Mas um temor de adentrar o hall do Viscond e d sapar c r como a vogal d(e)t(e)v(e)-m(e) .

A neblina não dissipara. A Guarapuava era uma Transilvânia àquela hora. Apertei o passo para o Mercado Municipal — focado no café cerrado –, deixando o mistério pra trás.