Paraná está entre os 10 estados que mais matam pessoas trans

Defensoria Pública alerta para normalização da violência





Foto: Rogério Machado/Defensoria Pública

A violência contra a população trans apresentou queda em 2019. É o que aponta o Dossiê Mapa dos Assassinatos, elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais. No entanto, a redução dos assassinatos acende uma luz de alerta nas autoridades do Paraná, em especial na Defensoria Pública e no Ministério Público do Paraná. Há a suspeita que casos estão deixando de ser registrados ou denunciados, camuflando os índices. Mesmo assim, o Paraná segue entre os estados que mais matam a população transexual. Diante da intolerância, a saída é união, informação e também amor.

De acordo com o dossiê, 2019 registrou 124 casos registrados como assassinato de pessoas trans. Redução em comparação com os dois anos anteriores, quando foram catalogados 163 assassinatos em 2018 e 179 em 2017, sendo a maior quantidade desde 2008. 

Embora os números apresentem queda, eles não diminuem a percepção de violência. “Mesmo com a queda aparente nos números nos dois últimos anos, não notamos nenhuma diferença significativa no dia-a-dia da vida das pessoas trans. Os números se mantêm acima da média, que assegura ao Brasil o 1º lugar no ranking dos assassinatos durante últimos 10 anos”, alerta o dossiê

Brasil é um país violento para a população trans

A sensação de impunidade e falta de políticas é compartilhada pelo defensor público-geral do Paraná, Eduardo Pião Ortiz Abraão. Em evento que reuniu lideranças, o Transgrupo Marcela Prado, Ministério Público do Paraná e Associação de Defensores Públicos, ele chamou atenção para como o Estado tem ligado com a questão.

“Os dados apontam 124 vítimas de homicídio. Parece uma redução, mas isso não significa diminuição real da violência. É preciso avaliar se as denúncias e os registros podem estar sendo dificultados. É espantoso. Mesmo assim, o Brasil segue líder mundial em violência”, lamentou Abraão.

Paraná é violento
Das mortes em 2019, 121 foram de Travestis e Mulheres Transexuais e 3 Homens Trans. Contudo, o dossiê encontrou apenas 11 casos em que os suspeitos foram identificados, o que representa 8% dos dados. Apenas 7% estão presos. Já em 2020, até 25 de janeiro, o Mapa dos Assassinatos registra 16 assassinatos. Um deles no Paraná. Jussara Pires da Silva, de 55 anos, foi assassinada a tiros no Centro de Curitiba.

O Paraná, aliás, integra uma má liderança. O estado ficou na sexta posição entre os estados que mais mataram pessoas trans nos últimos três anos. São contabilizados 24 assassinados. Em 2017, nove trans foram assassinadas. Em 2018, foram mortas 8. No ano passado, 7 trans.

Foto: Rogério Machado/Defensoria Pública

Independente dos números, um dos fatores que mais preocupa é a normalização da violência. O procurador de Justiça e coordenador do CAOP de Direitos Humanos, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, incentivou as pessoas a se unirem e enfrentarem os retrocessos sociais e políticos no Brasil. 

“É necessário darmos as mãos. Nós temos visto retrocessos em relação aos direitos humanos. Vivenciamos uma proposta política de desrespeito e violência. É inaceitável que alguém seja agredido por sua escolha religiosa, sexual, etc. É preciso se unir e enfrentar isso”, incentivou.

Foto: Rogério Machado/ Defensoria Pública

Conscientização

A Defensoria Pública tem travado a luta contra o preconceito e violência. Ela tem desenvolvido atividades de proteção e inclusão como solicitar celas exclusivas para população trans em delegacias e presídios, tem dialogado com o Hospital de Clínicas para que possa ser feita a operação de mudança de sexo custeada pelo SUS, além de divulgar cartilhas educativas sobre a população GBTI+ e “Orientações gerais para retificação de nome e de gênero da pessoa transgênero”.

Caroline Nascimento, presidente do Transgrupo Marcela Prado, reconhece esse apoio e comemora o Dia da Visibilidade Trans, em 29 de janeiro. “É fundamental a gente ter essa data para ser lembrada e pertencente à sociedade. Eu faço de tudo para que sejamos respeitadas. Agradeço o apoio do sistema de justiça por ajudar a sermos acolhidas”, agradece, comovida.