Jornalistas de “O Diário” começam greve por tempo indeterminado

Trabalhadores do veículo de comunicação estão sem receber salários desde outubro do ano passado





Redação de "O Diário" ficou vazia na tarde desta quarta-feira. Foto: Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná

Por Gibran Mendes e Júlio Carignano

Sem receber salários desde outubro do ano passado, jornalistas de “O Diário”, veículo de comunicação da região Noroeste do Paraná, iniciaram uma greve por tempo indeterminado nesta quarta-feira (7). Ao todo, 17 profissionais – entre repórteres, repórteres fotográficos e diagramadores – compõe a redação do periódico com sede em Maringá.

Na terça-feira (6) uma carta pública dos profissionais da redação do jornal foi divulgada alertando para a possibilidade da greve. No documento são apresentadas as motivações para o movimento paredista, em especial os atrasos de salários que começaram em maio de 2016. Desde então a situação dos profissionais vem se tornando cada vez mais caótica, chegando ao ponto de não receberem os vencimentos dos últimos quatro meses.

De acordo com nota oficial, o 13º salário de 2016 chegou com um ano atrasado e parcelado. Também não há previsão para o pagamento do benefício referente ao ano passado. Férias também não são pagas de forma regular. O FGTS dos trabalhadores não é recolhido desde maio de 2016 e demissões também são frequentes, com direitos sendo negados.

Todo esse cenário motivou os trabalhadores a deflagrar a paralisação na tarde desta quarta-feira (7). “Num cenário lastimável, cada jornalista vai lutando com suas economias. São 24 meses de contas atrasadas, juros nos bancos, perda de patrimônio, poupanças esvaziadas, financiamentos arruinados”, diz trecho do documento divulgado pela redação do jornal.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, uma série de tentativas de resolução dos problemas foram buscados junto à direção do veículo, porém sem nenhum retorno, o que motivou uma ação coletiva da entidade para reparação dos prejuízos aos trabalhadores. “A situação se tornou insustentável, não há qualquer garantia da empresa”, comenta Danilo Marconi, presidente da entidade.

Em processo de recuperação judicial desde o fim de 2016, “O Diário” conta com um Conselho de Administração, do qual o Sindicato dos Jornalistas tentou fazer parte. “Fizemos uma proposta para participar deste conselho, mas a empresa não nos respondeu”, comenta Marconi.

Situação caótica

Na carta aberta à sociedade, os jornalistas informam que buscaram estabelecer diálogo com a direção do jornal. “Tentamos dialogar com a empresa que, por tantos anos nos pagou corretamente e nos permite atuar no que gostamos, esse jornalismo feito com garra, apesar das condições externas”, diz o documento.

De acordo com Danilo Marconi, uma das profissionais ficou sem casa. “Tem gente morando de favor em casa de outras pessoas, tem profissionais que adoeceram”, diz o presidente do Sindicato.

O dirigente destaca o compromisso dos profissionais do “O Diário” mesmo diante de um cenário que se arrasta desde 2016. “Em todo esse tempo eles nunca deixaram de cumprir o compromisso com o jornalismo e com os leitores do jornal. São dois anos sem que uma única edição tenha deixado de ser feita, porém a situação se tornou insustentável”, aponta.

Publicidade oficial

A exemplo de grande parte dos veículos de comunicação no Brasil, “O Diário” recebe parte de seu financiamento de órgãos públicos. Somente dos cofres do Governo do Paraná, entre 2011 e 2017, o valor chega a R$ 905 mil.

É comum também que parlamentares destinem parte de suas verbas para mídias locais. Os deputados Federais, Edmar Arruda, Luiz Nishimori e Sérgio Souza também contribuem financeiramente com o jornal. Seja com a impressão de jornais de suas atividades parlamentares, divulgação de ações ou até mesmo assinaturas. Neste legislatura foram R$ 18 mil.

Assinaturas, aliás, que renderam nos últimos anos quase R$ 60 mil vindos da Assembleia Legislativa do Paraná para 78 assinaturas do jornal com dispensa de licitação nos últimos anos. Os dados sobre as verbas recebidas pelo veículo estão disponíveis nos portais de transparência dos respectivos órgãos.

EBC

Nos últimos meses greves de jornalistas não são novidade. Entre os dias 14 e 24 de novembro do ano passado a situação ocorreu na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão do Governo Federal. A paralisação só foi encerrada efetivamente no dia 1º de dezembro após intermediação do vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Emmanoel Pereira. Naquele momento a categoria aprovou abrir mão do aumento salarial para manutenção de outros benefícios.