União de Guaraituba, campeão do torneio em 2018. Foto: Leandro Taques

A primeira edição da Taça das Favelas do Paraná chegou ao fim neste sábado (9). Depois de três meses de competição, o Estádio Érton Coelho Queiroz, a Vila Olímpica do Alto Boqueirão, foi o palco da festa do União de Guaraituba, de Colombo, que tornou-se o primeiro campeão do torneio que envolveu mais de 300 jovens, entre 13 e 17 anos, de 32 comunidades de Curitiba e região metropolitana.

Na partida final o União venceu o time do projeto Shogun, da Vila Leonice, pelo placar de 3 a 0. O destaque da partida foi o jovem Guilherme Anthony, de 16 anos, autor de dois gols na decisão. O garoto, que já tinha marcado outros dois na preliminar da semifinal, terminou como artilheiro da competição. Para ele, a taça teve um significado especial que vai além das quatro linhas. Mais que levantar a taça e receber o prêmio pela artilharia, Guilherme conseguiu homenagear o pai que faleceu há um ano.

Guilherme Anthony, de 16 anos, autor de dois gols na decisão. Foto: Leandro Taques

A cada gol marcado, Guilherme apontava os dois indicadores para o céu. “É uma emoção grande especialmente porque perdi meu pai, para mim isso é tudo. Não foi por mim, foi por ele. Desde pequeno ele sempre disse que queria que eu fosse jogador e que eu iria conseguir. Antes dele morrer, ele disse para ao professor: ‘neguinho, ajude este menino’”, falou Guilherme com os olhos lacrimejados. O ‘professor’ ao qual o jovem se refere é José Maria Santana, treinador do União de Guraituba.

Porém mais do que a festa dos campeões, o torneio – organizado pela Central Única das Favelas (Cufa) – teve como objetivo principal a cidadania e inclusão social. E até mesmo os times que sequer chegaram as finais podem se considerar campeões. “Acho que todos os que participaram estão de parabéns, essa taça foi uma forma de unir toda essa molecada”, destacou Rubens Amâncio, pai de Henrique, um dos destaques da equipe vice-campeã.

“Ele está buscando um sonho, mas não pode descuidar dos estudos”, Rubens Amâncio, pai de Henrique, destaque do time vice-campeão. Foto: Júlio Carignano

Auxiliar de serviços gerais, Amâncio apoia o sonho do filho de 14 anos em ser profissional do futebol, porém sem deixar de fazer a cobrança para que o menino continue focado nos estudos. “Se ele achar um espaço no futebol será um sonho. Ele está buscando isso, mas não pode descuidar dos estudos. Ele é um dos melhores da classe dele”, diz orgulhoso o pai do menino que está na 9ª série.

Integração e cultura da paz

Junto aos três meses de jogos, atletas, familiares e outros moradores das comunidades participaram de atividades culturais e da revitalização de espaços esportivos. Ao fim do torneio, os organizadores fizeram uma avaliação da primeira Taça das Favelas. A Cufa teve o apoio da Labuta, Universidade do Esporte, RPC e Paraná Clube.

Apesar das dificuldades, o objetivo principal foi alcançado, segundo a organização. “Conseguimos superar as dificuldades, principalmente as financeiras. Questões como fazer o transporte destes jovens até os locais dos jogos foi uma delas, pois são jovens que não têm condições. Tivemos um desafio de fazer a inclusão deles e envolver quase mil jovens desde as peneiras para as seleções. Neste tempo que estiveram conosco eles ficaram longe de qualquer coisa que oferece risco a eles”, destacou José Antonio Campos, coordenador da Cufa no Paraná.

Zé da Cufa. Foto: Leandro Taques

Outro objetivo alcançado, segundo Zé da Cufa, foi a promoção da cultura da paz em territórios em conflito. “É uma oportunidade de ressignificação do indivíduo e dos territórios das favelas. Haviam muitas regiões de conflito que buscamos com esse evento superar”, comenta o coordenador. “É isso que chamamos de gol para toda vida”, completa Zé, em menção ao lema da Taça das Favelas.

Confira uma galeria de imagens das finais da Taça das Favelas do Paraná.