Bispos da CNBB emitem nota de repúdio contra despejo de famílias em Londrina (PR)

“Num momento de polarização e intolerância, é preciso que o diálogo até a exaustão, na busca de soluções pacíficas, seja condição irrenunciável”, diz o documento.





Os bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) da Regional Sul 2 – que abrange o Paraná – lançaram uma nota de repúdio à reintegração de posse ocorrida nesta terça-feira (30/08) em Lerroville, área rural de Londrina, norte do estado (PR). O despejo do Acampamento Quilombo dos Palmares foi executado sem qualquer aviso anterior, com forte aparato policial, dezenas de viaturas e homens da Polícia Militar e da Tropa de Choque do Paraná, além de sobrevoos de helicóptero.

Sob forte pressão psicológica, os camponeses e camponesas desmancharam suas casas de madeira e reuniram o que construíram desde 2015, quando ocuparam a área. Ficou para trás a maior parte dos alimentos e animais produzidos e criados pelos agricultores sem-terra. As famílias estão abrigadas no Centro Comunitário do assentamento Eli Vive, localizado a 3 quilômetros do acampamento. No entanto, os objetos e móveis estão a céu aberto, à espera de lona.

Assinam a nota Dom Geremias Steinmetz, Arcebispo de Londrina e Presidente da CNBB Regional Sul 2; Padre Valdecir Badzinski, Secretário Executivo da CNBB Regional Sul 2; Dom Amilton Manoel da Silva, bispo Auxiliar de Curitiba e Secretário da CNBB Regional Sul 2; e Dom José Antônio Peruzzo Arcebispo de Curitiba e Vice-Presidente do Regional Sul 2.

O documento cita a bíblia e uma afirmação do papa Francisco. “O nosso compromisso é, incansavelmente, trabalhar para que a vida em plenitude, trazida por Jesus Cristo (cf. Jo 10,10), se concretize em cada pessoa, família e no hoje da nossa história. Imbuído dessa certeza, o papa Francisco pede que não haja “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que provém do trabalho”. (cf. Discurso no Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em 28 de outubro de 2014), pautado na Doutrina Social da Igreja, que afirma ser a reforma agrária uma necessidade política e, ao mesmo tempo, uma obrigação moral (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 300)”, resgatam os bispos.

A nota pede que sejam revistos todos os despejos nas terras paranaenses:

“tendo em vista que essas famílias estão há muitos anos trabalhando, produzindo agricultura de subsistência, educando os filhos e construindo comunidade em áreas pertencentes a grandes devedores da União ou do Estado que eram tidas, anteriormente, como improdutivas”.

Outras três reintegração de posse já ocorreram no estado este ano.

Para a CNBB, é urgente que os órgãos responsáveis, em especial o INCRA, possam promover a reforma agrária “como meio de paz no campo e promoção da agricultura familiar de subsistência”. Na avaliação dos bispos, o momento de polarização e intolerância vivido no Brasil “exige diálogo até a exaustão, na busca de soluções pacíficas, seja condição irrenunciável”.

A fazenda ocupada desde 2015 pelas famílias está bloqueada na Justiça Federal por fazer parte dos escândalos de corrupção do Mensalão. A área está registrada em nome de Stael Fernanda, esposa do proprietário e já falecido ex-deputado federal José Janene, pivô do caso.