Covid-19: Colapso na saúde em Curitiba poderia ser evitado, aponta estudo da UFPR

Grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná monitora políticas públicas durante a pandemia




FonteComunicação UFPR

Profissional da saúde realiza teste da Covid-19. Foto: Américo Antonio/SESA

A escalada de casos de Covid-19 e o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS) em Curitiba poderiam ser evitados se o poder público tivesse adotado medidas mais duras entre maio e julho. Esse é o apontamento de uma pesquisa do programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), baseado no monitoramento de políticas públicas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus na capital e região metropolitana.

Lançada na primeira quinzena de dezembro, o relatório avalia os seis primeiros meses de pandemia: de março a agosto. A pesquisa traz uma metodologia cruzando o monitoramento das políticas de enfrentamento à pandemia com os dados epidemiológicos dos 29 municípios que fazem parte da RMC. Segundo a coordenadora do grupo, professora Maria Tarcisa Silva Bega, até agora a série histórica nunca foi analisada desta maneira. O estudo é contínuo e neste momento monitora o período de setembro a dezembro. Os próximos resultados serão apresentados em janeiro de 2021.

Entre as conclusões da pesquisa, a professora Tarcisa destaca a falta de coordenação centralizada das políticas, deixando os prefeitos à mercê das pressões dos interesses econômicos, apenas “gerenciando a doença” e não evitando-a. No relatório, os pesquisadores definiram o conjunto de ações tomadas como “gerenciamento da pandemia”, pois as políticas implementadas eram muito mais de administração de impactos do que enfrentamento da pandemia.

Segundo os pesquisadores, ao invés do poder público procurar evitar que o vírus circulasse e infectasse as pessoas, “optou por manter o contágio sob níveis considerados toleráveis”. Sobre a saúde pública, os dados demonstram que “o sistema suportou a demanda não em decorrência da eficiência das políticas de mitigação da doença, mas da enorme capacidade do SUS de ampliar rapidamente sua capacidade de atendimento aos pacientes graves de Covid-19”.

O estudo demonstra que as medidas de isolamento social mais restritivas são as mais bem sucedidas no enfrentamento da pandemia, pois até os meses de abril e maio (período mais rígido das medidas), o ritmo de transmissão se mantinha sob relativo controle. O primeiro pico de novos casos, como a entrada em fase exponencial de transmissão, se dá praticamente ao mesmo tempo em todo o espaço metropolitano, quando os decretos mais restritivos são flexibilizados na primeira data comercial importante, a Páscoa.

Outro apontamento da pesquisa é que os governos municipal e estadual não buscaram se contrapor a política negacionista do presidente Jair Bolsonaro e não cobraram medidas na esfera federal para controle da situação.

“Comprovamos que o lockdown programado para toda a RMC seria a única forma de achatar a curva e evitar o colapso do SUS. Ainda em agosto o SUS demonstrava capacidade de atendimento. Mas apontamos que em agosto, se houvesse uma política mais dura de isolamento social o colapso de hoje teria sido evitado”, finaliza Tarcisa.

Linha de tempo da Covid-19 em Curitiba. Imagem: Divulgação UFPR
Linha de tempo da Covid-19 em Curitiba. Fonte: UFPR

O relatório dos pesquisadores na íntegra está disponível aqui.