Desigualdade entre negros e não negros se aprofunda durante a pandemia

No segundo trimestre de 2020, momento de maior adesão ao isolamento, 6,4 milhões de negros e negras saíram do mercado de trabalho




FonteDIEESE

Foto: Roberto Parizotti.

Negros e não negros se inserem de forma distinta no mercado de trabalho e os indicadores refletem essa diferença. A pandemia de covid-19 afetou todos os trabalhadores, mas os impactos foram mais intensos sobre os negros, seja pela dificuldade que essa população enfrenta para encontrar colocação ou pela necessidade de voltar antes ao mercado de trabalho, devido à falta de renda para permanecer em casa, protegida do vírus.

Entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 8,9 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho – perderam empregos ou deixaram de procurar colocação por acreditarem não ser possível conseguir vaga no mercado de trabalho. Desse total, 6,4 milhões eram negros ou negras e 2,5 milhões, trabalhadores e trabalhadoras não negros.

A partir do momento em que as pessoas começaram a buscar voltar ao mercado de
trabalho, a taxa de desocupação cresceu. A comparação do volume da força de trabalho do 2º trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020 mostra que a força de trabalho negra cresceu 3,8 milhões (1,79 milhões de homens e 1,97 milhões de mulheres). Já entre os não negros, o aumento foi de 2,3 milhões (963 mil homens e 1,38 milhões de mulheres).

No segundo trimestre de 2020, momento de maior adesão ao isolamento, 6,4 milhões de negros e negras saíram do mercado de trabalho. No mesmo período de 2021, a força de trabalho negra registrou aumento de 3,7 milhões, o que significa que somente 59% dos trabalhadores negros voltaram ao mercado de trabalho – quase 2,6 milhões não retornaram. No caso dos não negros, 2,5 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho durante o isolamento. No 2º trimestre de 2021, 2,3 milhões já haviam voltado.

“A pandemia do coronavírus acentuou as diferenças. No momento do isolamento, uma
parcela muito maior de mulheres e homens negros perdeu o trabalho e voltou para casa, sem perspectiva de nova ocupação. Antes inseridos em ocupações de baixa qualificação e
rendimento e, no caso das mulheres, no emprego doméstico, esses trabalhadores saíram do mercado de trabalho, mas, mesmo antes da vacinação, começaram a voltar, devido à
necessidade de renda para a sobrevivência”, explica o DIEESE.

Os dados de ocupação e rendimento em 2021 mostram que persiste a intensa desigualdade de inserção e de ocupação entre negros/as e não negros/as. Os negros/as enfrentam mais obstáculos para conseguir uma colocação, ganham menos e têm frequentemente inserção mais vulnerável.