Marielle Franco, presente!

Quinta-feira foi de luto e homenagens. Em Curitiba, 2,5 mil pessoas compareceram em ato na Praça Santos Andrade





Vigília em homenagem à vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e ao motorista Anderson Gomes, nesta na noite desta quinta-feira (15), em Curitiba. Foto: Gibran Mendes

Por Júlio Carignano com fotos de Gibran Mendes

Milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades do Brasil ao longo desta quinta-feira (15) em atos em memória à vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista que a acompanhava, Anderson Pedro Gomes, ambos executados a tiros na noite de quarta-feira (14) no Rio de Janeiro. As manifestações aconteceram em pelo menos onze capitais. Em Curitiba, 2,5 mil pessoas participaram de uma vigília na escadaria do prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade. Com velas, faixas, flores e cartazes, a multidão prestou homenagens à dupla e repudiou a intervenção federal que acontece no Rio de Janeiro.

A denúncia do racismo, do extermínio da população negra e a afirmação de que a execução de Marielle Franco foi, acima de tudo, um crime de ódio racial deram o tom do ato na capital paranaense. “Nós negras e negros resistimos todos os dias. Marielle foi morta por um crime racista, acima de tudo, racista. Recebemos ataques todos os dias nas redes sociais, somos agredidos, mortos a todo momento. E todo dia um racista FDP diz que estamos de ‘mimimi’. Independente de esquerda ou direita, partido A ou B, estamos morrendo todos os dias”, desabafou a cantora e compositora Michele Mara, militante da Marcha do Orgulho Crespo do Brasil.

“A Marielle foi um exemplo para mim que sou mulher preta”, Brinsan N’tchala, durante vigília em Curitiba. Foto: Gibran Mendes

“Empatia com o povo preto”. Esse foi o pedido de Brinsan N’tchala, militante do movimento negro e estudante de Direito em Curitiba. “Todo dia está morrendo preto neste país, olha, 77% dos assassinados são jovens negros. O que está sendo feito?”, questionou. “A Marielle foi um exemplo para mim que sou mulher preta. Se formou, fez mestrado e teve que carregar nas costas o peso de uma comunidade inteira. É sempre assim com a gente, matando tudo no peito. Porque ninguém olha para gente e tem empatia”.

No momento da execução de Marielle, na noite de quarta-feira, Brinsan participava de um evento na universidade de lançamento de um livro sobre o poder judiciário e encarceramento em massa da população negra. “No momento em que ela [Marielle] foi executada eu estava fazendo uma fala, pedindo para a população branca que estava ali naquela sala, olhar para mim e me ver como uma humana”.

Goretti Bussolo, fundadora do Coletivo Todas Marias, destacou a violência cotidiana contra a mulher, especialmente a mulher negra. “Todos os dias morre uma Marielle. Falo por todas as Marielles que morrem todos os dias”, disse emocionada. “Esses tiros que acertaram a Marielle acertou cada uma de nós. Estamos aqui para transformar nosso luto em luta”, destacou a agente universitária Carla Cobalchini, militante do PSOL.

Vigília em homenagem à vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e ao motorista Anderson Gomes, nesta na noite desta quinta-feira (15), em Curitiba. Foto: Gibran Mendes

Durante a vigília em frente ao prédio histórico da UFPR, vários manifestantes também gritaram palavras de ordem contra a violência policial, principal bandeira de luta de Marielle Franco. Curiosamente e contrariando o habitual, não haviam policiais ou guardas nas imediações da vigília. Junto aos gritos clamando por justiça, manifestantes cantavam versos como “companheira me ajuda. Que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”, ciranda que é costumeiramente entoada por coletivos feministas.

Marielle, Presente!

Mulher negra, moradora da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle tinha 38 anos e era reconhecida por seu histórico de luta por direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras, moradores de favelas e periferias e pela denúncia da violência policial.

Foi a quinta mais votada da cidade nas eleições de 2016, com 46.502 votos, em sua primeira disputa eleitoral. Há duas semanas, ela assumiu a função de relatora de uma Comissão na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o objetivo de acompanhar a atuação das tropas do exército na intervenção federal na cidade. No sábado (10), a vereadora denunciou o 41º batalhão da Polícia Militar, conhecido como “Batalhão da Morte”.

A parlamentar também presidia a Comissão de Defesa da Mulher, na qual apresentou projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, para levar a prefeitura do Rio a compilar dados sobre violência de gênero no município. Ela também tinha atuação na ampliação do número de Casas de Parto, locais destinados à realização de partos normais.

Vigília em homenagem à vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e ao motorista Anderson Gomes, nesta na noite desta quinta-feira (15), em Curitiba. Foto: Gibran Mendes

Antes de se eleger vereadora, Marielle Franco foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo, seu colega no PSOL, com quem participou da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa.

Marielle estudou Sociologia na PUC e fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense. Sua dissertação teve como tema as Unidades de Polícia Pacificadora. O título foi “UPP: a redução da favela a três letras”.

O crime

Na noite de quarta-feira (14), Marielle foi morta a tiros dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro Estácio de Sá, por volta das 21h30. Duas pessoas numa moto emparelharam no carro no qual ela ia e dispararam. Marielle foi atingida com quatro tiros na cabeça. O rapaz que dirigia o carro, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morreu. Uma assessora de Marielle, que estava no banco de trás, também foi atingida, mas passa bem.

Veja como foi a transmissão da Vigília pelo Porem.net