Cooperativa da Reforma Agrária comemora 30 anos de produção 100% agroecologia e coletiva

A produção de alimentos na comunidade é 100% orgânica e coletiva. A festa de comemoração do aniversário reuniu mais de 400 pessoas

Tânia Leite, da direção da Cooperativa, reforçou a agroecologia como construção de um projeto onde o ser humano é a centralidade. “A Copavi é lugar onde crianças, jovens, mulheres e homens são construtores de novas formas de viver e sonhar, sem os sonhos a vida se torna vazia e sem sentido. Com os sonhos dividimos as dores e as alegrias”. Foto: Leandro Taques

A comemoração dos 30 anos da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi) reuniu mais de 400 pessoas, na sede do Assentamento Santa Maria, neste último dia (23), em Paranacity, noroeste do Paraná. A festa de comemoração é a síntese de um projeto de campo expressado na produção agroecologia e no cooperativismo, compromissos assumidos pelas famílias no primeiro dia da ocupação, em 1993.

As famílias Sem Terra foram audaciosas em decidir, desde o início da ocupação, que o assentamento seria de produção 100% orgânica e coletiva. O fazer agroecológico assumido pelas 25 famílias resgatou a ancestralidade dos camponeses em produzir alimentos saudáveis sem utilizar insumos químicos. O desafio era grande em produzir em um solo desgastado pela monocultura. Com sacrifício, as famílias iniciaram um longo processo de recuperação do solo e produção de alimentos.

José Damasceno, da Direção do MST, em alusão aos primeiros dias da ocupação, relembrou da situação da antiga fazenda. “Papel foi de pegar uma caveira [alusão à condição da área no momento da ocupação] e dar vida, produzindo alimentos, ideias, festa, cultura, conhecimento e sabedoria popular. O dia de hoje é histórico na construção da vida, comemorando os 30 anos da Copavi”.

Mais de 400 pessoas participaram da festa. Foto: Leandro Taques

Atualmente, as famílias organizadas produzem por ano 270 toneladas de açúcar mascavo, 185 toneladas de melado, 125 mil litros de leite e 35 toneladas de hortaliças. Toda produção é certificada e está disponível à população através do comércio local e de políticas públicas de acesso ao alimento por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Essa produção também é exportada à Europa.

Tânia Leite, da direção da Cooperativa, reforçou a agroecologia como construção de um projeto onde o ser humano é a centralidade. “A Copavi é lugar onde crianças, jovens, mulheres e homens são construtores de novas formas de viver e sonhar, sem os sonhos a vida se torna vazia e sem sentido. Com os sonhos dividimos as dores e as alegrias”.

A dirigente da cooperativa afirmou ainda os compromissos da cooperativa.  “Contem com os compromissos da Copavi, com a agroecologia, com a soberania alimentar, com a reforma agrária, com o socialismo”, concluiu Leite.

O processo de organização pensado pelas famílias coletivizado e organizado através da divisão do trabalho. No assentamento não se vê a tradicional divisão de lotes, mas sim uma produção organizada em alguns sistemas produtivos nos 230 hectares da área com trabalho coletivizado e com divisão de tarefas.

Entre as ações de comemoração dos 30 anos da Copavi, aconteceu um seminário Agroecossistema Agroecológicos Integrados: Produção Animal e Vegetal no Noroeste do Paraná, demonstrando a experiência produtiva organizados pela cooperativa. O seminário resgatou a prática do fazer agroecológico.

Priscila Monnerat, agrofloresteira, dirigente do Coletivo de Gênero e do Setor de Produção do MST, explicou que “a agroecologia é uma prática milenar que começou a ser desenvolvida como ciência a partir da prática dos povos ancestrais. Foto: Leandro Taques

Priscila Monnerat, agrofloresteira, dirigente do Coletivo de Gênero e do Setor de Produção do MST, explicou que “a agroecologia é uma prática milenar que começou a ser desenvolvida como ciência a partir da prática dos povos ancestrais e, ela surge como um movimento para resistir ao avanço do modelo capitalista de agricultura e para propor outro jeito de cultivar a terra, sem destruir os bens comuns”, concluiu.

Estiveram presentes no ato comemorativo representantes dos poderes legislativo e executivo, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) com representações nacional e estadual, Deputado Federal Elton Welter, Deputado Estadual Professor Lemos (PT) e o Arilson Chiorato (PT), e representante da Associação de Juristas pela Democracia (AJD), além disso estiveram representantes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SEAB), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ministério Público do Trabalho de Maringá (MPT), vice prefeito  e representantes de vereadores de Paranacity.

Na ocasião também foi entregue menção honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná, proposta pelo deputado Estadual Professor Lemos. Foto: Leandro Taques

Cooperar para produzir mais alimentos 

O sistema produtivo da Reforma Agrária do Paraná está alicerçado em 23 cooperativas, 64 agroindústrias e cerca de 100 associações, e mais de 100 produtos industrializados. Entre as linhas de produção, em assentamentos e acampamentos, estão leite, milho, arroz, feijão, ovos, hortifrúti, mel, cana-de-açúcar e destilação, erva-mate, de polpa e suco de frutas, ração animal e panificados.

Um dos principais destinos da produção das famílias Sem Terra é a alimentação escolar, por meio do PNAE. Em 2022, 3,9 mil toneladas chegaram a quase centenas de escolas via este programa.