Foto: Leandro Taques

Por Júlio Carignano com fotos de Leandro Taques

A Caravana de Lula pelo Paraná iniciou seu roteiro em um local marcado pelo simbolismo e histórico de luta pela terra. Em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Estado, o ex-presidente discursou para uma multidão de trabalhadores da agricultura familiar, setor que movimenta mais de 70% da economia da região. Em meio a multidão, muitos filhos, filhas, netos e netas de colonos que na década de 1950 lutaram contra o coronelismo durante a Revolta dos Posseiros.

Na Praça da Catedral Nossa Senhora da Glória, de vários monumentos de referência à luta camposena, Lula falou dos episódios de ódio e agressões registrados nas caravanas pelos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

“Não consigo entender o ódio que se estabeleceu no Brasil. Faço campanha desde o fim da década de 80 e, apesar das divergências, nunca vi esse tipo de briga. Gente `tacando’ pedras, tacando ovo. A pessoa que taca um ovo deveria dar esses ovos para quem não tem o que comer. Isso só demonstra o descaso dessa gente com o povo trabalhador”.

Assim como nos demais estados do Sul, a primeira parada no Paraná teve momentos tensos, com tentativas de barreiras para impedir que a caravana chegasse ao Sudoeste. “Tentaram nos impedir de chegar à Beltrão, eles querem impedir as pessoas de andar pelo país. Esse pessoal que acha que está acima do bem e do mal, os mesmos que apoiaram o golpe e colocaram o governo corrupto do Temer. Os mesmos que apoiam um candidato que acha que tudo pode decidido na bala, na violência”, disse a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT.

Foto: Leandro Taques

Já na praça, os manifestantes contrários foram se aglomerando para tentar impedir o ato. Dos já tradicionais xingamentos como “ladrão”, “vagabundos”, “bandidos” até gritos de “temos sangue europeu” estiveram no repertório dos manifestantes. Caminhonetes trataram de fazer um buzinaço e caminhão de som, com seguranças privados perfilados e jovens vestindo camisetas do MBL, também estavam no cenário.

O discurso de Lula foi constantemente interrompido pelo barulho de fogos de artifício dos manifestantes contrários. “Fico satisfeito que estão soltando rojão. Em 1989, em 1994, nossa militância não tinha dinheiro para soltar rojão. Peço que guardem os rojões para soltar quando eu tomar posse no dia 1º de janeiro de 2019. Ai terão uma razão especial para soltar rojão”, ironizou o petista.

Lula voltou a afirmar que está sendo vítima de uma perseguição do judiciário e da mídia, que o acusam sem apresentar provas. “Se o apartamento [triplex] é meu, que apresentem no papel. Se não é, que peçam desculpas pelo que estão fazendo. Qual foi o crime que cometi? Talvez o crime tenha sido gerar milhões de empregos com carteira assinada, de criar piso salarial para professores, criar escolas técnicas, levar a luz elétrica para 15 milhões de pessoas que viviam embaixo do candieiro”.

Foto: Leandro Taques

O ex-presidente enalteceu conquistas obtidas no Sudoeste do Paraná durante seu governo, em especial na área da educação – com construção de uma universidade federal e escolas técnicas – e avanços para agricultura familiar. “Sou o presidente que não tem diploma universitário, mas que foi o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, o que também fez mais escolas técnicas. Esse é o cara que essa gente odeia, pois só querem que seus filhos tenha direito a frequentar uma escola, uma universidade”, disse Lula, apontando para aqueles que protestam do outro lado da praça.

Para Gleisi Hoffmann, “nenhum governo olhou para o Sudoeste do Paraná como os governos do PT”. Ela citou a criação da UFFS, em Realeza, os campus da UTFPR em Francisco Beltrão, Dois Vizinhos e Pato Branco, os campus do IFPR em Barracão e Capanema, além da ampliação do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e os recursos para a cadeia do leite na região .

Para o ex-vereador Pedro Tonelli, liderança histórica da região Sudoeste, a presença da caravana no Sudoeste representa uma homenagem a história de luta dos posseiros pela posse na terra. Segundo ele, esse seria o motivo dos atos contrários ao ex-presidente na região. “Eles perderam quatro eleições seguidas e na última perderam a paciência deram um golpe. Hoje estão com medo de perder as próximas quatro eleições caso o presidente Lula possa ser candidato”.

Agricultores e agricultoras de municípios da região estiveram presentes na ocupação da Praça Nossa Senhora da Glória. “Defendemos a democracia, por isso estamos aqui nos manifestando. Sem violência e contra a perseguição ao Lula, que ainda pode ajudar muitas pessoas”, disse Irene Andrade, moradora do Assentamento Missões, interior de Francisco Beltrão. “É com grata alegria que recebemos a caravana. Nós que somos de municípios pequenos, tivemos muito avanço na distribuição de renda”, comentou Elderson Lira, do município de Nova Prata do Iguaçu.