Pré-assentamento com mais de 20 anos está ameaçado de despejo no Paraná

Alegando que o valor oferecido pelo Incra era muito abaixo do esperado, o proprietário pediu a reintegração de posse, concedida no fim do mês passado.




FonteGeani Paula de Souza

Na mesma área já são assentadas 21 famílias que estão regularizadas. Foto: Geani Paula

Há mais de 20 anos, onze famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) formam o pré-assentamento Jangadinha, no município de Cascavel, Oeste do
Paraná, com a promessa de serem assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra). Na mesma área já são assentadas 21 famílias que estão regularizadas e as demais ficaram sem lotes. Na época, o Incra afirmava que a outra parte da área já estava prestes a se tornar assentamento, por isso as onze famílias dividiram os lotes e foram montando o pré-assentamento.

O proprietário pediu a reintegração alegando que o valor oferecido pelo Incra era muito
abaixo do esperado. Em março, após mais de 20 anos, chegou à reintegração de posse. “Essa noticia da reintegração pegou a gente de surpresa, por que a gente tinha muita esperança no governo e no Incra que sempre nos deu esperança, além de esperança nos deu documentação, por que temos nota de produtor e CAD/Pro para poder produzir”, disse Ceandra Defacci, agricultora do Jangadinha.

No mês de fevereiro houve uma audiência sobre a área, onde ficou decidido a
reintegração de posse do local, com isso duas famílias teriam 30 dias para saírem, e as
demais 60 dias.

O caso chegou foi assunto na Câmara de Vereadores de Cascavel com manifestações dos parlamentares em apoio às famílias. Eles também participaram de audiência com o prefeito Leonaldo Paranhos, que se comprometeu em marcar uma reunião com o chefe da Casa Civil do estado, para tratar do assunto juntamente com representantes da comunidade e vereadores. “Não tivemos uma decisão concreta, mas pelo menos uma luz a gente teve, e um caminho para seguir, porque quando veio esta ordem de despejo foi desesperador”, avalia Defacci.

Produção e estruturas do local

Ao longo de duas décadas foram constituídas muitas vidas nesse local, e com isso uma
grande estrutura. A comunidade, que serve tanto para o pré-assentamento e o
assentamento, conta com capela, sala médica, centro comunitário, campo de futebol e
parquinho para as crianças.

A produção na roça é o que mantém o sustento dessas famílias. De lá saem produtos
para as cooperativas do MST, Ceasa e feiras, além das vendas diretas. E uma boa parte
da produção é orgânica, pois nove famílias estão em processo de certificação pela Rede
Ecovida.

Semanalmente são entregues aproximadamente 2 toneladas de produtos, entre hortaliças,
tubérculos e temperos. Boa parte dessa produção é entregue para o Programa Nacional
de Alimentação Escolar.

Até o momento as famílias aguardam uma solução, pois se forem despejadas perderão além de muitas estruturas, uma história com mais de 20 anos.

Confira no vídeo abaixo mais sobre a comunidade Jangadinha.