Engenharia cresceu no governo PT e sofreu os impactos da Lava Jato

Livro traz diagnóstico de empregos, mercado e perfil profissional dos engenheiros de 2002 a 2017





Copa do Mundo, Olimpíadas e PAC impulsionaram a engenharia brasileira. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

O Brasil tem mais de 1 milhão de profissionais engenheiros e engenheiras espalhados em diversos ramos de atividade. Deste número, 825 mil são homens e aproximadamente 180 mil são mulheres. A maior parte desses profissionais está concentrada no Sudeste (56,8), sendo que o estado que possui mais profissionais registrados no sistema Confea estão em São Paulo, com 291.297 mil. O Paraná tem 61.085 engenheiros com registro válido no CREA-PR. Destes, 50 mil são homens e pouco mais de 10 mil são mulheres. Este é o cenário atual da profissão, que vem registrando expansão sucessiva desde 2010, de acordo com o livro “O mercado de trabalho e a formação dos engenheiros no Brasil”.

A obra é resultado de uma grande pesquisa promovida pelo DIEESE em parceria com o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) e Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge). O livro, patrocinado pela Mútua, se baseia na PNAD e no Relação Anual de Informações Sociais (Rais) para refletir sobre o desempenho da economia e do mercado de trabalho brasileiros e as características da ocupação e da formação em engenharia no Brasil. 

O cenário apresentado neste livro vai da expansão do número de empregos formais no Brasil de forma expressiva ao processo de desaquecimento econômico e a crise política no país, capitaneada pela Operação Lava Jato e, consequente, no golpe ao mandato da presidenta Dilma Roussef.

De acordo com Clovis Nascimento, presidente da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), vice-presidente do Senge-RJ (Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro) e integrante da coordenação do movimento SOS Brasil Soberano, o mercado de trabalho e a formação dos engenheiros no Brasil oferecem uma oportunidade de se pensar os rumos da engenharia e do mundo do trabalho. 

“No Brasil, a Reforma Trabalhista institui uma intensa precarização das relações de trabalho, expandindo a informalidade e o rebaixamento dos salários. A superação da crise se dará com valorização da engenharia nacional, com investimentos públicos em infraestrutura e uma economia com a presença do Estado e da soberania”, destaca Clovis. 

O livro, portanto, assume o compromisso de promover um panorama do desempenho econômico e do mercado de trabalho no país de 2002 a 2017, focando na ocupação e na formação de profissionais em engenharia no Brasil, com a apresentação de informações sobre o perfil dos engenheiros e dos postos de trabalho ocupados.

Crise nacional e engenharia
A engenharia brasileira é a ponte para o desenvolvimento e a crise econômica é a barreira para os empregos dos engenheiros. Esta é a conclusão do livro, ao analisar o período mencionado. Se de um lado, a indústria de transformação e a construção civil abriram as portas, de outro, depois de 2014, a queda de empregos ocorreu, sobretudo, na redução de investimentos em obras públicas e estruturais.

Quando analisada a origem do investimento público, percebeu-se que, em todos os anos, a maior parcela dos investimentos têm origem nas empresas públicas da União, tendo atingido 1,9% do PIB em 2010 e 2013.

Quanto à construção civil, a redução responde à recente recessão econômica, ao término de grandes obras realizadas até 2014 (como as estruturas construídas para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, por exemplo) e, mais especificamente, aos impactos da Operação Lava-Jato sobre as maiores empresas do setor, desde 2014

“A ocupação total de engenheiros começou a cair em 2016, após atingir o maior patamar em 2015 (504 mil engenheiros), um ano depois do início da queda do número de vínculos formais da engenharia, que chegou a registrar 262 mil vínculos em 2014”, anota a obra.

Salários e demanda
Por legislação, o salário para uma jornada de seis horas diárias é de R$ 5.988,00 e de R$ 8.982,00 para uma jornada diária de oito horas. O estudo revela que os engenheiros têm jornada média de trabalho de 41 horas semanais e que os empregados no setor público ganham mais: “o rendimento mensal real habitual dos engenheiros foi, em média, de R$ 7.606 no biênio 2016-2017, variando entre R$ 10.088, para os empregados  no setor público, e R$ 5.243 para os por conta própria”, calcula.

“O mercado de trabalho e a formação dos engenheiros no Brasil” traz diversos quadros e gráficos mostrando o PIB de 2002 a 2017, a distribuição de renda, termina com um alerta aos profissionais, pensando no futuro. “Para reverter a tendência de queda das remunerações dos profissionais de engenharia e evitar a migração destes profissionais para outras atividades é necessário, portanto, ampliar a demanda por engenheiros no país. Para isso, é necessário não só retomar o crescimento econômico, mas diversificar a estrutura produtiva ampliando os setores com maior demanda de mão de obra qualificada”.

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