O rock é resistência





Partigianos se apresenta no acampamento Lula Livre. Foto: Júlio Carignano

A música sempre foi uma importante forma de resistência contra regimes totalitários e de denúncia das mazelas sociais. Das canções folclóricas e populares na luta contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial, do blues e folk que atacava a escravidão em suas canções tristes falando de um país dividido por uma guerra civil; até o rock com sua política de choque.

No acampamento Lula Livre, que reúne centenas de militantes de partidos de esquerda e de movimentos sociais em Curitiba, a música de protesto é uma constante, presente desde o primeiro dia que formou-se a vigília nas imediações da Polícia Federal. Diariamente artistas locais, do samba, hip hop, MPB, do rock, se apresentam na Praça Olga Benário, nome batizado ao local das manifestações no acampamento.

Neste sábado, dia 14 de abril, quando-completou uma semana da prisão de Lula, os centenas de militantes de movimentos sociais e partidos políticos tiveram a oportunidade de conhecer (aos que ainda não conheciam) uma banda da capital paranaense que busca fazer uma resgate de hinos históricos da esquerda com uma pegada do rock e da polska punk.

A Partigianos, confraria que resgata canções populares da resistência contra o fascismo na Espanha e Itália, embalou a tarde do acampamento Lula Livre. O nome da banda é uma menção ao termo ‘partisan’ que surgiu na Guerra Civil Espanhola nos anos de 1930. Na Segunda Guerra Mundial, os partisans tiveram participação fundamental contra a ocupação alemã nos países da Europa. Já na Itália, os ‘partigianos’ lutaram contra o fascismo de Mussolini.

Hinos revolucionários como A Las Barricadas, Em la Plaza de mi Pueblo, Si me Quieres Escribir e Fischia Il Vento, estiveram no repertório, porém a canção Bella Ciao foi aquela que mais fez a militância dançar. A canção de protesto – que nos últimos meses ganhou admiradores até mesmo entre os “coxinhas” e a direita desinformada por ser trilha da série “Casa de Papel” – tem raízes nos cânticos de trabalhadores rurais italianos – na sua maioria migrantes – entoados como forma de ritmar e diminuir o peso do exaustivo plantio e colheitas. Posteriormente, com adaptações, a música foi utilizada como resistência da invasão da Alemanha nazista à Itália e contra o regime de Benito Mussolini.

A canção narra a história de um homem que acorda e se depara com a figura do invasor (simbolicamente os camisas negras) e decide se juntar à resistência mesmo que isso signifique sua morte em combate, uma vez que viver sob a dominação fascista é como a morte. Ao se despedir de sua mulher dizendo “bella ciao” (“querida, adeus”) o recém incorporado partigiano pede que se morrer, seja enterrado na montanha, na sombra de uma flor, para que todos que ali passarem vejam a flor que simboliza o partigiano que deu sua vida em nome da liberdade do povo italiano.

Em fevereiro, o Porém.net entrevistou um dos idealizadores da banda Partigianos: o músico e produtor Vlad Urban. Entre as pautas, falamos sobre o projeto. Filho do fotógrafo João Urban e sobrinho de Teresa Urban (1946-2013), jornalista e ambientalista que participou de grupos de resistência à ditadura militar, Vlad tem a militância no sangue.

A ideia da banda Partigianos surgiu de Vlad e sua irmã Dora Urban, que é musicista e pianista. Das pesquisas da dupla saiu todo o repertório, que hoje tem nove músicas. “É uma releitura de versões de hinos revolucionários, basicamente da Guerra Civil Espanhola ou da resistência contra o fascismo na Itália numa pegada polska punk. Uma tradução para um jeito dançante, para cima”, explicou Vlad, adiantando que o grupo está preparando versões de canções de resistência às ditaduras na América do Sul.

Além das já citadas canções da resistência espanhola, a Partigianos conta no repertório com canções como a mexicana La Adelita, da revolução camponesa liderada por Zapata e Pancho Villa.

No início de fevereiro, a banda gravou seu primeiro vídeo oficial com a versão Fischia Il Vento; uma adaptação da música folclórica russa Katyusha feita pelo médico comunista, Felice Cascione, um partigiano italiano que lutou na resistência contra fascismo de Mussolini.

Além dos irmãos Urban, fazem parte da Partigianos; Andre Santos (bateria), David Ernst (guitarra), Gustavo Toscan (acordeon), Pepeu Flukeman (baixo) e Tom Fortes (vocais).

Neste momento de resistência, de ameaça à democracia e ascensão de ideários fascistas, ouvir e conhecer a Partigianos é mais do que necessário. Quem quiser saber mais sobre a banda, pode acessar a página do Partigianos.