Em nova reportagem da série “Vaza Jato”, publicada pelo The Intercept Brasil, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, concorda com avaliação de colegas do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba de que o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), mantinha um esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. Dallagnol, porém, afirma que o então juiz Sergio Moro não prosseguiria com a investigação. Primeiro, por pressões políticas do então recém eleito presidente Jair Bolsonaro e pelo desejo de Moro de ser indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF).
“É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, digitou o procurador, ao pedir a opinião dos colegas sobre os desdobramentos de uma reportagem publicada no dia 8 de dezembro de 2018, sobre um depósito de R$ 24 mil feito pelo ex-assessor de Flavio, Fabrício Queiroz, numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Dallagnol queria saber dos demais procuradores que avaliação faziam sobre como seria a reação de Moro.. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu. Ele mesmo acrescenta em seguida, falando sobre Jair Bolsonaro: “Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”
Segundo os procuradores, o esquema operado pelo assessor Queiroz seria similar a outros escândalos em que deputados estaduais foram acusados de empregar funcionários fantasmas e recolher parte do salário como contrapartida.
Dallagnol diz ainda que Flávio “certamente” seria implicado no esquema. No entanto, até hoje, como ele mesmo presumia, não há indícios de que Moro, que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que o filho do presidente é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio de Janeiro.
Não há indícios de que Moro tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que Flavio é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio
Além de ter, como se diz entre jornalistas, esfriado, o escândalo envolvendo Flávio, que dominou as manchetes nos primeiros dias do novo governo, desapareceu da mídia nos últimos meses. Moro tampouco dá sinais de que está interessado em investigar com seriedade o caso. Nas poucas vezes em que respondeu a questionamentos sobre a situação do filho do presidente, ele repetiu que “não há nada conclusivo sobre o caso Queiroz” e que o governo não pretende interferir no trabalho dos promotores.
Entretanto, o caso voltou aos noticiários na última segunda-feira (15), quando o presidente do STF, Dias Toffoli, atendeu ao pedido de Flávio Bolsonaro e suspendeu as investigações iniciadas sem aprovação judicial envolvendo o uso dos dados do Coaf, órgão do Ministério da Economia que monitora transações financeiras para prevenir crimes de lavagem de dinheiro.