Bolsonaro, prefeitos e empresários disputam quem mata mais

Mundo ultrapassa os 5 milhões de contaminados e Brasil já é o terceiro em casos confirmados, mesmo com subnotificação





Manifestantes apoiam presidente Jair Bolsonaro em defesa da exposição social. Foto: Isac Nóbrega/PR

A marca de 5 milhões de contaminados em todo mundo e 291 mil casos confirmados apenas no Brasil não tem servido para fazer comerciantes, empresários, prefeitos e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recuarem da intenção de aumentar a exposição social ao Covid-19 e, consequentemente, as mortes. Diversas decisões e posturas políticas têm ido na direção da reabertura do comércio e do fim da quarentena. Todos parecem estar numa “disputa de quem mata mais”, parafraseando o próprio presidente.

Em uma reunião com empresários, Bolsonaro cometeu mais um “ato falho”. Ao reclamar das medidas de isolamento social e adoção de possível lockdown, ele disse que prefeitos e governadores estavam em uma disputa de “quem salvava a vida de mais eleitores”. Isso mesmo, o presidente reclamou das ações que salvavam pessoas porque estaria prejudicando a economia. É nessa perspectiva que Bolsonaro conseguiu a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde e aprovou a recomendação do uso da cloroquina para o tratamento dos contaminados. Sob Bolsonaro e seus boicotes públicos no combate à pandemia, o Brasil já é o terceiro país em casos confirmados, mesmo com subnotificação, e o sexto em mortes, em um índice que não para de crescer.

O governador Carlos Massa Ratinho Junior participa da posse de Camilo Turmina, novo presidente da Associação Comercial do Paraná. Foto: Arnaldo Alves / AEN

Comercializando contaminação

Mas não é apenas o presidente que está nesta disputa de quem mata mais. Para “salvar a economia”, empresários e comerciantes estão dispostos a aumentar os caixões pelo país. No Paraná, por exemplo, a Associação Comercial do Paraná (ACP) tenta a todo momento aumentar a exposição social ao vírus. A ACP novamente “vai encaminhar ao prefeito de Curitiba, Rafael Greca, um documento discutido em comum acordo por representantes de shopping centers, galerias e congêneres em que propõe condições para a reabertura desta modalidade de comércio. O documento passará por uma análise das autoridades municipais, podendo haver a liberação da reabertura dos shopping centers em Curitiba ainda nesta semana, a exemplo do que já ocorreu em outras cidades do estado, como Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa”, defende. Essa mesma ACP escondeu pesquisa em que paranaenses se mostraram contra a exposição social.

No mesmo sentido de “manter a saúde malhando o risco à vida”, as academias tentam retomar suas atividades. A Associação dos Centros de Atividades Físicas do Paraná (Acaf) disse que as academias do estado devem voltar a funcionar até o dia 1º de junho. A entidade apelou ao Tribunal de Justiça do Paraná, apoiada no Decreto de Bolsonaro que tornou academias, barbearias e salões de beleza atividades essenciais. Em Curitiba, representantes de academia já haviam pressionado o Secretário de Esportes, Emílio Trautwein, para a retomada das atividades, mesmo a capital liderando os casos no estado e com contaminação presente em todos os 75 bairros da cidade (veja mais aqui: “Coronavírus chega em todos os bairros de Curitiba“. É o lema: mais músculos, mais contaminados.

Foto: Pedro Ribas/SMCS

Para o Ministério Público, no entanto, a orientação é de que as Promotorias de Justiça em todo o estado devem promover medidas para garantir que, em todos os municípios, sejam observadas as determinações sanitárias estadual e federal de manutenção da política de isolamento social como forma de conter o avanço da Covid-19. “As marcas diariamente divulgadas da tragédia por que passamos, deixadas pela realidade do vertiginoso avanço do contágio e de suas consequências, a par de nos fazer solidários à dor e ao sofrimento de tantas famílias”.

Ministro da Saúde, Ricardo Barros. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Matar gera lucro

Realmente, salvar vidas não deve ser bom para os negócios. Pelo menos é o que pensa o ex-ministro da Saúde e infectado, o deputado federal Ricardo Barros (PP), que é cotado para assumir novamente o ministério no governo de Bolsonaro. Ele reclamou que a quarentena e o confinamento diminuíram os acidentes de trânsito e, consequentemente, a arrecadação de hospitais particulares.

“Os hospitais estão quase quebrando porque eles perderam seu movimento normal. Os acidentes de trânsito caíram muito. Também era um motivo de faturamento e a covid não está ocupando, na maioria do país, os leitos. Então, nós estamos quebrando nosso sistema hospitalar porque eles não podem fazer o seu trabalho normal  e também não têm clientes covid em todo o país para ocupar os leitos”, mercadorizou Barros. Na lógica do deputado do Centrão, mais exposição social aumenta a ocupação de leitos por vírus e acidentes, aumentando os lucros.

No super feriadão, paulistanos correm pra praia. Foto: Prefeitura de Caraguatatuba

Exposição social

É neste cenário em que as pessoas aproveitam o super feriado em SP para descer à praia, que o dono da Havan burla a lei pra “vender arroz e feijão” e tentar reabrir suas lojas, que clubes de futebol tentam retomar campeonatos, que o Governo do Paraná adota a cloroquina no tratamento em massa e obriga professores e funcionários de escola a retomarem atividades. A cada dia que passa, as mortes viram apenas números e as medidas de relaxamento ou flexibilidade da quarentena mostram que o país tem adotado a exposição social como medida de combate à vida. Isso mesmo: combate à vida.