Sanepar jorra lucro para acionistas enquanto fecha a torneira para empregados

População paranaense paga a conta dos quase 800% de aumento na distribuição das receitas





Governador Beto Richa, acompanhado pelo presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche, participa da abertura da oferta pública inicial das ações da Sanepar na Bovespa. Foto: Rafa Von Zuben/BMF/Bovespa

A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) aumentou em 800% o repasse de lucros para os acionistas privados da empresa nos últimos nove anos. É o que aponta estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) do Paraná. O aumento do repasse das riquezas, no entanto, não chega aos funcionários da estatal de capital aberto. Na análise, os economistas do DIEESE mostram que as despesas com pessoal vem caindo continuamente. Por outro lado, a Sanepar acaba de suspender por 15 dias a negociação sobre a participação das receitas.

Além de diminuir a distribuição de lucro entre os trabalhadores, a Sanepar ainda tem enxugado o quadro de funcionários. O estudo mostra que o enriquecimento dos acionistas é pago pelos consumidores. Desde 2011, a empresa mudou sua orientação política, privilegiando o mercado financeiro com a majoração das tarifas. O Governo do Paraná, que tem controle dos votos decisivos, tem apenas 20% do capital total da Sanepar e possui apenas uma ação preferencial da empresa.

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Na comparação dos dados de 2019 com os de 2010 foi observado crescimento de 219,05% na Receita Operacional Líquida, que passou de R$ 1,480 bilhão para R$ 4,723 bilhões de reais, e de 697,01% no Lucro Líquido, passando de R$ 135,511 milhões para R$ 1,080 bilhão de reais. “Mesmo com a crise econômica e política que o país vem enfrentando no período recente, inclusive com a estagnação da economia, os resultados da empresa não foram afetados”, observa Fabiano Camargo da Silva, economista do DIEESE.

De acordo com o estudo, este desempenho financeiro é ocasionado, principalmente, pela política tarifária adotada pela empresa e a redução do número de trabalhadores, que caiu 6,0% desde 2014 e que possivelmente continuará caindo como consequência do novo Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI) lançamento recentemente pela empresa.

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Sanepar virou queridinha do mercado financeiro com política de reajuste de tarifas
Foto: Rafa Von Zuben/BMF/Bovespa

Perde e ganha

Entre 2010 e 2019, a riqueza a ser distribuída pela Sanepar cresceu 255%, porém, os valores destinados aos trabalhadores cresceram apenas 159%. Por outro lado, os acionistas tiveram um aumento de 788% em seus recebimentos. “Em função desta política, as receitas bem como os lucros da empresa aumentaram de modo expressivo. Podemos concluir que existe na empresa um claro direcionamento da riqueza em favorecimento dos acionistas, em detrimento dos trabalhadores e da sociedade”, esclarece o economista. 

Além de os funcionários da Sanepar não serem contemplados com os ganhos da empresa, a diferença salarial tem aumentado. Entre 2006 e 2016, a relação entre a maior e a menor remuneração da empresa se manteve estável na faixa de 14 a 15 vezes aproximadamente. Essa tendência se altera a partir de 2017, aumentando a disparidade entre os salários mais altos e os mais baixos. A diferença salta para aproximadamente 23 vezes.

Negociação suspensa

A Sanepar suspendeu por 15 dias, podendo ser prorrogável por mais 15 dias, a negociação com os sindicatos com relação ao PPR (Plano de Participação das Receitas). Embora a divisão do bolo trate das receitas obtidas em 2019, ou seja, antes da pandemia, a Diretoria Executiva usa a Covid-19 como argumento para não prosseguir com as negociações.

A Sanepar, que havia feito a proposta de acordo, se retira temporariamente da negociação alegando o congelamento do reajuste das tarifas por 60 dias e a proibição dos cortes de água aprovado na Alep e sancionada pelo governador em 23 de abril.