Em crise, Bolsonaro se enrola para desmentir Moro

“Não posso aceitar minha autoridade questionada por qualquer ministro”, admitiu o Presidente.




FontePhill Batiuk

Foto: Marcos Corrêa/PR

Em discurso realizado na tarde do dia em que o até então Ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, entregou seu cargo alegando interferência política do Presidente Jair Bolsonaro em investigações da Polícia Federal, o mandatário tentou dissipar as acusações. Entretanto, o tiro pode ter saído pela culatra.

Embolando-se mais do que esclarecendo, Bolsonaro garantiu que a diminuição na intensidade das operações contra a corrupção não se tratam de menor autonomia da PF, mas sim de uma suposta superioridade em suas indicações políticas, que seriam menos corruptas.

“É óbvio que isso ia acontecer. Se as nossas indicações para ministérios, bancos oficiais e estatais não passavam por indicações partidárias, tá na cara que a fonte da corrupção não era tão abundante quanto antigamente. Isso começou a bater sobre mim como se eu tivesse contrário à Lava-Jato”.

Bolsonaro ainda trouxe à tona questionamentos acerca de seu filho 04, Jair Renan, em investigações sobre a suposta tentativa de assassinato contra sua pessoa enquanto candidato presidencial em 2018, a família de sua atual esposa Michele, e a relação de Fabrício Queiroz consigo e seu outro filho Flávio.

“Eu nem sabia que a avó da minha esposa já foi presa por tráfico de drogas. Fiquei sabendo atrás de vocês (imprensa) também que a mãe da Michele cometeu o crime de falsidade ideológica. Em sua inocência, (…) ela resolveu fazer uma cirurgia em sua Certidão de Nascimento pra ficar 10 anos mais jovem. Se coloca em público isso daí pra dizer que ela não tem caráter”.

Retomando informações que podem vir a se tornar públicas, informou que teria recebido 40 mil e não 24 mil reais de Queiroz, em parcelas depositadas à conta de sua esposa, mas que apesar de conhecê-lo desde 1984, o ex-PM responderia por seus próprios atos. Entretanto, é notório que o paradeiro do amigo do Presidente não é conhecido pelos agentes da Lei para que ele possa esclarecer os crimes que é acusado de cometer no período em que trabalhou para a família Bolsonaro.

Em tom performaticamente emocionado, disse: “Eu sempre abri meu coração pra ele (Moro), mas já duvido que ele sempre abriu pra mim. Confiança é via de duas mãos”, lamentou. Dito isto, acusou o ex-aliado de ter condicionado a troca do diretor-geral da PF a uma suposta indicação ao Supremo Tribunal Federal, em novembro.

Por fim, decretou: “O Brasil é maior do que qualquer um de nós. A pátria vai ter de qualquer um de nós o seu empenho, o seu sacrifício, e se possível, se for necessário, o teu sangue pra defender a democracia e a liberdade”.

Moro rebate Bolsonaro

O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, rebateu o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. Principalmente o argumento de que Maurício Valeixo havia pedido para deixar o cargo. Em sua conta no Twitter, Moro disse que o cansaço era de ser assediado.

“De fato,o Diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído. Mas,ontem,não houve qualquer pedido de demissão,nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado”, disse Moro.