“Não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que tenha condições de trabalho, de preservar a autonomia da Polícia Federal pra realizar seus trabalhos, ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política cujos resultados são imprevisíveis”, afirmou o agora ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública.
Também ex-Juiz Federal de Primeira Instância, Sergio Moro falou por cerca de 40 minutos em entrevista coletiva à imprensa, citando grande preocupação com o Estado de Direito no país. Ele ainda irá encaminhar, até segunda-feira, carta oficial de demissão.
Com os olhos vermelhos e ora marejados, Moro apontou que, desde 2014 no decorrer da Operação Lava-Jato, preocupa-se com possível interferência do governo em investigações de nível federal:
“O governo da época tinha inúmeros defeitos, mas foi fundamental na manutenção da autonomia da Polícia Federal, que ilustra a importância da garantia da MANUTENÇÃO do estado de direito (rule of law)”.
O ex-juíz deu a entender em vários momentos que sua saída tem relação direta com as tentativas de Bolsonaro em interferir em investigações contra seus filhos e aliados, citando a decisão do Presidente de mudar a estrutura do COAF, órgão responsável por investigar lavagem de dinheiro, além de “processos no STF” e a interferência do mandatário nas superintendências da Polícia Federal em Rio de Janeiro e Paraíba, ambas as quais realizaram recentemente operações contra milícias – algumas das quais teriam, supostamente, ligações com os Bolsonaro.
“O presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência e, realmente, não é o papel da PF prestar esse tipo de informação”.
Moro continuou: “As investigações têm que ser preservadas: imagine se na Lava-Jato a então Presidente Dilma ou Luís ficassem ligando pra colher informações sobre as investigações em Curitiba. A aplicação da lei seja a quem for é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um estado de direito“, concluiu.