Estudo aponta agrotóxico como causa de malformações em Cascavel

O artigo, assinado pelos pesquisadores Lidiane da Silva Dutra e Aldo Pacheco, do setor de Pós Gradução da FioCruz, aponta a relação dos agrotóxicos com a incidência das malformações em nascidos vivos





Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) junto à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca apontou que a região de Cascavel é a de maior índice de ocorrências de malformações congênitas no Paraná devido à utilização de agrotóxicos. O estudo – que teve como base o período de 2004 a 2014 – foi divulgado em julho em artigo científico na Revista Saúde e Debate, publicação de circulação nacional.

O artigo, assinado pelos pesquisadores Lidiane da Silva Dutra e Aldo Pacheco, do setor de Pós Gradução da FioCruz, aponta a relação dos agrotóxicos com a incidência das malformações em nascidos vivos. O levantamento apontou que o consumo deste tipo de produto trouxe problemas nos sistemas reprodutores, neurológicos e respiratórios na população estudada, com destaque para as malformações congênitas denominadas de “fenda labial” e “fenda palatina”.

A incidência, segundo a pesquisa, acontece pela proximidade das gestantes com herbicidas e fungicidas, assim como a possibilidade de contaminação do lençol freático da região de Cascavel. O artigo ainda aponta dados alarmantes entre o aumento das áreas cultivadas e o aumento da utilização dos agrotóxicos. Entre 2000 e 2014, a área plantada para a produção de grãos no estado do Paraná aumentou em 39% enquanto o consumo de agrotóxicos aumentou 111% (27,6 toneladas para 57,8 toneladas).

“Além de todos os problemas já citados, o controle efetivo da exposição a esses pesticidas é muito pequeno e escasso no cenário brasileiro. Os dados referentes ao uso dos produtos não são sistematizados em bancos de dados informatizados para a grande maioria dos estados do País. Isso dificulta a mensuração do impacto da exposição ambiental desses produtos sofrida pela população. Além disso, o lobby exercido pelas grandes corporações impede, quase sempre, o acesso à informação.”, diz a conclusão do artigo científico.

‘Capital do agrotóxico’

Dados da ADAPAR (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) apontam que a região de Cascavel (UR Cascavel) é que mais consome agrotóxicos no Paraná. Levantamento feito entre os anos de 2014 e 2015 apontou que o município consumiu 5.107,46 toneladas neste período, seguido da UR de Ponta Grossa com 3.526,73 toneladas e de Toledo com 3.336,95 toneladas.

Autor da lei que proíbe o uso de agrotóxicos perto de escolas, CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil), unidades de saúde e núcleos residenciais rurais em Cascavel, o vereador Paulo Porto (PCdoB) levou o tema ao plenário da Câmara nesta segunda-feira (21). “Tudo indica que existe uma estreita relação entre doenças como o câncer e a utilização de agrotóxicos, porém, ainda que seja quase que óbvio, ainda necessitamos de estudos que trabalhem não a contaminação aguda, de fácil identificação, mas também a contaminação crônica, aquela do dia a dia, do envenenamento roteiro e silencioso”.

O vereador espera que a pesquisa sirva de alerta a toda a comunidade cascavelense. “Infelizmente a chamada ‘capital do agronegócio’ também é a capital do consumo de agrotóxico por habitante e, consequentemente uma das capitais da malformação congênita. Um título que não dá para se orgulhar”, destacou o parlamentar.

Para concluir, Porto parabenizou o Conselho Municipal de Educação que recentemente reiterou a proibição do chamado “Agrinho” na Rede Municipal de Cascavel; material didático patrocinado pelo Sistema FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) com objetivo de naturalizar a utilização de agrotóxicos junto às novas gerações. “Que este exemplo seja seguido e multiplicado, pois ainda que este debate não agrade ao agronegócio, mais do nunca é necessário encararmos com seriedade a questão dos agrotóxicos no município”.

A íntegra do artigo científico está disponível no link abaixo

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042017000600241&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt