O deputado federal licenciado e atual ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), recebeu R$ 3,1 milhão em doações para sua última campanha. Empresas investigadas pela Operação Lava Jato, como a Galvão Engenharia, a JBS e o Banco BTG Pactual, juntos, destinaram R$ 1,9 milhão ao então candidato. Os recursos foram destinados por intermédio do Partido Progressista (PP), partido de Barros. O valor representa 63% do total de verbas registradas no sistema de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral.

Os dados disponíveis no sistema da Justiça Eleitoral também trazem outros dados curiosos. O interesse de empresas do setor imobiliário, sobretudo na região de Maringá, base eleitoral de Barros, na candidatura do atual ministro. Oito corporações constam no sistema oficial como doadoras de um montante de R$ 210 mil.

Barros, já faz algum tempo, está envolvido com o sistema imobiliário. Principalmente na sua cidade, Maringá. De acordo com o jornalista Angelo Rigon, que mantém o Blog do Rigon e é um crítico das ações do ministro na administração pública, todo loteamento na cidade precisava necessariamente passar pelo seu aval. Mesmo quando não era prefeito.

“Ele manda em Maringá. Durante 12 anos o PP teve a prefeitura. Todo o loteamento tem que ter a benção dele. Já cheguei a publicar isso. O pessoal não se dirigia à secretaria do planejamento, se dirigia ao escritório político da família Barros, na Prudente de Moraes. Isso é público e notório aqui em Maringá”, afirmou o jornalista.

O próprio escritório, conforme lembra Rigon, foi alvo de polêmica. “O imóvel foi comprado em leilão da Caixa Econômica Federal e quem arrematou foi a Cida (Borghetti, vice-governadora do Paraná e esposa de Barros), com cheque frio e chegou a ter prisão preventiva decretada”, completou.

Mais doações polêmicas | A empresa Farias & Farias Ltda, que também consta como doadora da campanha do ministro, atualmente está impedida de participar de licitações ou celebrar contratos com o poder público até 10 de fevereiro de 2021. A penalidade foi estabelecida em fevereiro do ano passado pela Justiça Eleitoral. A empresa, responsável por doar ao candidato R$ 45 mil, teria destinado algo próximo de 30% do seu capital social registrado, avaliado em R$ 160 mil, para Barros.

Outra doação que levanta polêmica é da Usina Alto Alegre S/A. O grupo foi denunciado por manter trabalhos em condições análogas à escravidão e contribuiu com R$ 65 mil com a campanha de Ricardo Barros.

Saúde | A gestão de Ricardo Barros é contestada no Ministério da Saúde. Os questionamentos foram agravados por uma doação de R$ 100 mil destinados ao ministro por Elon Gomes de Almeida, presidente do Grupo Aliança, ligado ao setor da saúde privada. Barros já defendeu publicamente a revisão do tamanho do SUS, considerado um dos maiores programas de inclusão social do mundo. A declaração gerou ainda mais polêmica pelo fato da redução do sistema público de saúde interessar, sobretudo, às empresas que administram planos de saúde privados.

Para o médico pediatra e cardiologista Mário Lobato, que atua no sistema público de saúde há 40 anos, existem duas correntes que atuam no sistema. A primeira é que, resumidamente, acredita que a saúde é um direito humano e que se confunde com o próprio direito à vida. A segunda, que Lobato refere-se como “patrimonialista”, vê as ações e serviços de saúde como oportunidades de negócios.

“A esta corrente o que interessa é o aumento no consumo de insumos e serviços. O deputado Ricardo Barros (que ocupa o cargo de ministro da saúde) certamente se encaixa no grupo “patrimonialista”. Isto se verifica facilmente já de início quando percebemos que ele teve entre seus principais financiadores de campanha um conglomerado privado de saúde. Todas as vezes em que ele fala em melhoria do SUS, ele se refere a ‘aumentar a produção de serviços’ quando a proposta do SUS é exatamente o contrario”, relata Lobato que é ex-auditor do Ministério da Saúde e atualmente está aposentado.

Segundo ele, o necessário é investimento nos serviços básicos, como o Saúde da Família. “Aproximadamente 80% dos problemas de saúde são resolvidos na atenção básica quando é bem conduzida, ou seja, sem que haja a necessidade de ‘mais consultas e serviços’. A coisa continua pela inacreditável iniciativa de criar ‘planos Tabajara baratinhos’ de saúde e pelo verdadeiro atentado contra a saúde constituído pela revisão da Política Nacional de Atenção Básica, que fere de morte a nossa Estratégia de Saúde da Família (que vinha sendo admirada e estudada por profissionais de todo o mundo). O deputado foi mais além: fechou farmácias populares, atacou o Brasil Sorridente, falou em reabrir leitos psiquiátricos em manicômios e vai despejar toneladas de dinheiro em Santas Casas. Neste caso, destinando recursos em atendimento hospitalar em detrimento da atenção básica”, completa o médico.