Intervenção militar e até monarquia: o desfile de 7 de setembro em Curitiba

Para grupo que pede a volta dos militares, Michel Temer é “comunista e transformará o Brasil na Venezuela"





Manifestantes pedem intervenção militar no desfile de 7 de setembro, em Curitiba. Foto: Julio Carignano/Porém.net

O grande ápice da Semana da Pátria, idealizada no período do general Costa e Silva, é o desfile cívico-militar de 7 de Setembro. Feriado nacional, dia da independência do Brasil. Em meio ao público que acompanhou o evento no Centro Cívico de Curitiba, um grupo de aproximadamente 20 pessoas chamava atenção pelos trajes pesados e camuflados em pleno feriado ensolarado. A tira colo faixas que pediam “intervenção militar”.

Sob olhares curiosos de crianças e desconfiados dos próprios policiais militares que faziam a segurança do evento, os intitulados “intervencionistas” deliravam a cada blindado que seguia pela Avenida Cândido de Abreu. Amparados por algo inexistente durante a ditadura militar, o direito à livre manifestação, os camuflados buscavam convencer outros civis que o Brasil está em um “regime comunista” e que o país está “a se transformar numa Venezuela”.

Segundo representantes do grupo um dos artífices deste plano em transformar o Brasil em uma espécie de ditadura do proletariado é Michel Temer, tachado por vários intervencionistas de “comunista”. Palavras “elogiosas” aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também faziam parte do repertório.

Sobrou até para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chamado de “maconheiro”.

O grupo ainda encontrou, durante o desfile, outros coletivos, que apesar de em menor número, também chamavam a atenção. Um deles trajava camisetas com o rosto de Sergio Moro. Outras pessoas, enroladas em bandeiras com o brasão da família imperial brasileira, tampouco passavam desapercebidas.

O Porém.net ouviu algumas destas pessoas para saber como estes caminhos, violentos e centralizadores, poderiam ser a solução para a crise política no Brasil. “Por que defendemos a volta dos militares? Porque foi o período onde houve mais progresso, as pessoas eram felizes”, garantiu o comerciante Ademir Gonçalves, de 57 anos, que taxa o termo “ditadura militar” como uma “falácia criada pela esquerda comunista que está roubando o Brasil”.

Manifestantes pedem intervenção militar no desfile de 7 de setembro, em Curitiba. Foto: Julio Carignano/Porém.net

Gonçalves parecia fazer questão de afirmar que não é um funcionário público que “mama nas tetas do governo”. De acordo com ele, o regime militar foi o período de maior liberdade da história do Brasil. Nem o poder judiciário escapou da metralhadora giratória do comerciante. “Todos esses juízes foram indicados por esses comunistas que estão ai no poder, do Fernando Henrique até o Temer”, completou.

Edineia Maria, de 55 anos, acredita que o Brasil deveria implantar uma espécie de sistema democrático parcial. Neste caso, os representantes nas esferas municipal e estadual seriam definidos pelo voto. Mas a escolha da Presidência da República não. “Queremos intervenção no governo federal. Não queremos briga com o governo municipal, câmara municipal, governador, prefeito, só queremos a presidência da República de volta nas mãos dos militares”.

Ética, moral, bons costumes e a família tradicional brasileira eram expressões reincidentes no vocabulário do grupo. Assim como culpar os eleitores pelo atual cenário político brasileiro. “Primeiro num comunista, depois um viciado em drogas, depois um bêbado analfabeto e de novo uma bêbada analfabeta”, enumerava até ser interrompida por uma companheira de grupo, chamada Rosa Lins. “Do que adianta votar se as urnas são todas fraudadas?”, questionou.