Dando aula de hipocrisia





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UM DIA QUALQUER | Nesta data, 15 de outubro, chovem fotos e felicitações pelo Dia dos Professores. Amanhã, 16, os problemas dessa profissão serão reprovados novamente, assim como vinha acontecendo um dia antes, em 14 de outubro. E um dia antes, e outro dia antes e tantos dias antes ou depois do Dia dos Professores. É, aliás, um fenômeno comum no Brasil: se destacar uma data para “sermos um pouco melhores”. 24 horas depois prosseguimos com nossos vícios e manias. Hoje acontece com os professores, quando se repete exaustivamente que “país sem educação não tem futuro”. Dias atrás, em 12 de outubro, ao cultuarmos Nossa Senhora Aparecida, rainha dos pobres e oprimidos, se enaltecia a tolerância entre os homens de bem até o próximo episódio em que as pessoas possam se engalfinhar, de acordo com seu fanatismo político, religioso ou futebolístico. Logo ali, em 25 de dezembro, lembramos de Jesus Cristo, que se entregou para salvar a humanidade. No dia 26, porém, não nos surpreenderemos com palavrões e todo azar de violência psicológica nas redes sociais.

Se a história se repete, na primeira vez como farsa e na segunda como tragédia, não é por conta dos professores, mas por causa dos alunos que desistiram de aprender.

CURRÍCULO REPROVADO | E os professores têm nos dito que com o congelamento dos recursos para a educação, novas escolas não serão construídas, mestres não atualizarão seus conhecimentos, o país não desenvolverá ciência que o transforme de mão de obra barata para o mercado mundial em protagonista de desenvolvimento humano e social. Mas Michel Temer, o presidente que compra votos, usa as redes sociais hoje para postar foto como professor e enaltecer a profissão. Evidentemente que em seu quadro negro não aparece a lição de como chegou ao poder. Tampouco mostrará a fórmula para acabar com programas como “ciência sem fronteiras” ou cortar até verbas de custeio das universidades.

APAGA A DOR | Matéria indiferente uma vez que muitos pais estão preocupados em tornar a escola um ambiente de censura prévia. Sim, esses mesmos que não comparecem a uma reunião com os mestres, que nunca participaram de uma conferência municipal, estadual ou nacional de educação, dificilmente conseguem debater a importância de a escola não ser negligente com as diversas formas de expressão de gênero. Essa turma quer apenas assinalar sua ignorância na prova de única escolha e tirar nota dez.

29 de abril de 2015. Governador Beto Richa reprime violentamente os servidores públicos, em sua maioria educadores, que protestavam em Curitiba contra o fim da Previdência. Foto: Joka Madruga/APP-Sindicato

ZERINHO | Por falar em notas, o Paraná tira zero em valorização de seus educadores. Desde 2015, o governador Beto Richa comprou briga com os professores do estado. Do Massacre de 29 de abril até o mais novo ataque à classe com o congelamento de salários por dois anos aprovados recentemente na assembleia legislativa, se percebe que a boa educação vai além de berço de ouro. É uma questão de princípios. De caráter. Um currículo que o governador não tem. Tanto é que no estado os jovens ocuparam escolas contra a deformação do ensino médio enquanto o ministério público revelava esquema de desvio de verbas na construção de escolas. Mas “tudo bem”, vamos esquecer esses problemas por hoje e quem sabe a partir do dia 16 comecemos a fazer a lição de casa.

COLAR NA PROVA | Em Curitiba, a aula não é diferente. O prefeito Rafael Greca (PMN) também passou pela mesma escola de Beto Richa. A cidade que tem uma das melhores educação pública no Brasil congelou salários de professores de educação infantil, não implementou planos de carreira e tem 12 cmeis novos fechados. Para piorar, o prefeito quer aumentar a quantidade de crianças por sala de aula e ainda desfalcar outras escolas, removendo mestres, porque o dinheiro que poderia ser utilizado para novas contratações abastece os empresários que fazem negócios com a Prefeitura de Curitiba.

ENTRE A CRUZ E A ARMA | Enfim, no Dia dos Professores, é uma opção refletir sobre o suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que foi exposto irresponsavelmente pela polícia brasileira. Estamos crucificando a educação no Brasil, lavando as mãos com relação ao futuro e gritando que é bom já irmos nos acostumando com #Barrabas2018.